Título: Despreparo leva a casos de violência, diz procuradora
Autor: Barbara Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2005, Metrópole, p. C1

Péssimas condições de trabalho e violência caminham juntas. Com esse entendimento, está claro para o Ministério Público do Trabalho que os conhecidos casos de tortura e agressões na Febem têm a falta de segurança e despreparo de pessoal como suas principais causas. "O medo provoca o descontentamento e a rotatividade. Por conta disso, é preciso contratar mais gente, que normalmente é despreparada. Ou aumentar as horas extras, o que também é prejudicial", diz a procuradora Viviann Rodriguez Mattos. Esse círculo vicioso, um dos problemas que a nova presidência da Febem pretende combater, começa, segundo a procuradora Cristina Ribeiro, com a seleção inadequada de funcionários - há casos de servidores que não completaram o 4.º ano do ensino médio - e ganha corpo com a falta de cursos de capacitação voltados para a realidade que o trabalhador encontra na rotina da instituição. "Muito da violência e dos afastamentos é decorrente dos problemas desse meio ambiente do trabalho", afirma.

A Febem tinha em fins de janeiro 829 dos seus 9.284 funcionários afastados por problemas de saúde. O número alto de licenças médicas chamou a atenção da instituição, que investiga possíveis fraudes de servidores contra os cofres públicos. Um levantamento preliminar apontou que metade dos examinados poderia ter voltado ao trabalho. Na opinião das procuradoras, é preciso também observar os motivos de tantos atestados. "O empregado está lá e sofre violência. O assédio moral causa doenças", pondera Cristina. No convívio muitas vezes promíscuo com o interno, os servidores tendem a se comportar no ambiente hostil com mais violência.

EDUCAÇÃO

Para Cristina, a Febem deve investir em medidas socioeducativas para criar um ambiente favorável não só ao adolescente, mas ao profissional. "Em visitas às unidades, constatei que a maioria dos jovens passa os dias ociosos", relatou. Os funcionários têm pouco treinamento. "Os mais velhos passam por uma semana de treino teórico e os novos, por três dias, como um jovem de 21 anos, que estava apavorado no pátio, mas precisa do emprego."

Não há, segundo ela, cursos específicos que preparem o profissional para a situação peculiar da Febem. Diariamente, os funcionários lidam com adolescentes infratores, com idades entre 12 e 20 anos, que cometeram crimes leves - como furto - ou gravíssimos, como latrocínio (roubo seguido de morte).

São inúmeros os casos de problemas de saúde provocados pelo stress do trabalho. Obesidade mórbida, depressão, síndrome do pânico e alcoolismo são algumas delas. A pressão também leva a respostas violentas. "Com um ambiente de pressão, jornada exaustiva e falta de segurança, é claro que o trabalho deles não vai ser bem sucedido."