Título: Bancos ganham R$ 21,8 bi com tarifas
Autor: Priscilla Murphy
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2005, Economia, p. B5

As receitas com tarifas e outras cobranças por serviços bancários dos quatro maiores bancos de varejo que já divulgaram resultados anuais subiram 21% em 2004, para R$ 21,8 bilhões, segundo um levantamento da consultoria Austin Rating. A quantia paga por cliente em tarifas varia muito, já que a grande maioria dos usuários do sistema bancário tem algum pacote de serviços que inclui descontos em tarifas. Mas, em média, cada um dos 22,1 milhões de clientes do Banco do Brasil pagou R$ 299 em tarifas em 2004, enquanto a receita do banco com tarifas subiu 20% em 2004, para R$ 6,6 bilhões.

Ao Bradesco, seus 15,7 milhões de clientes pagaram em média R$ 371 em 2004, enquanto a receita com tarifas subiu 27,8%, para R$ 5,8 bilhões. No Itaú, o valor médio pago pelos 11,8 milhões de clientes é de R$ 522, enquanto a receita com serviços subiu 20,4%, para R$ 6,2 bilhões.

No grupo analisado, o Unibanco foi o que apresentou a menor média tarifária por cliente, de R$ 186. Mesmo assim, sua receita com tarifas aumentou 14,2% em 2004, para R$ 3,2 bilhões. O Unibanco informou ontem, por sua assessoria de imprensa, que já tem 450 mil clientes no programa tarifa zero, atualmente o carro-chefe do marketing da instituição. Esse grupo de clientes recebe descontos de 25% a 100%, dependendo de quantos serviços usa e de quanto investe no banco.

Entretanto, no mês passado o Unibanco passou a cobrar mais pelo uso do cheque especial, com a comissão de manutenção de crédito, que não é uma tarifa e, portanto, não entra no tarifa zero. A comissão corresponde a 30% dos juros pagos no cheque especial no mês ou 0,29% do limite total - o que for menor.

Para especialistas, os bancos devem aumentar cada vez mais as receitas com tarifas e com crédito, se as perspectivas de queda nos juros e crescimento sustentado da economia se confirmarem no médio e no longo prazos. Isso porque eles perderão a receita com a negociação de títulos do governo, grande parte dos quais pagam juros flutuantes conforme a taxa Selic ou índices de inflação e são a atividade mais lucrativa dos bancos.

Eles advertem que, embora a receita média com tarifas seja uma referência de quais bancos são mais caros para trabalhar, os clientes devem ficar atentos ao quanto realmente pagam nas tarifas e procurar dialogar com o banco quando se sentirem lesados. O nível de concorrência entre os bancos por determinados tipos de clientes muitas vezes joga as tarifas e até mesmo os juros para os níveis de países do Primeiro Mundo.

"Quando uma empresa é muito boa, o banco pratica juros baixíssimos para manter o relacionamento", diz o analista da Austin Rating Miguel Santacreu. Em algumas praças, como a cidade de São Paulo, que concentra sedes de grandes empresas e muitos bancos, os juros finais cobrados dos clientes são mais baixos que em outras, diz o analista. Para as maiores empresas brasileiras, por exemplo, os bancos já cobram um spread - a diferença entre o que o banco gasta para captar o dinheiro e a taxa cobrada do cliente - de cerca de 1,6 ponto porcentual, o equivalente ao mercado americano.

Porém, o cenário é o oposto para a maioria dos clientes dos bancos, aquelas pessoas físicas que têm pouco ou nenhum investimento e vivem entrando no cheque especial, justamente os que menos provocam concorrência entre as instituições financeiras.