Título: Sistema de proteção é sempre limitado, diz governador
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2005, Nacional, p. A6

"Qualquer sistema de proteção pessoal é sempre limitado, não tem nenhuma chance de resolver", disse o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), ao ser indagado sobre os líderes de movimentos sociais que agem na floresta do Estado, marcados para morrer. Jatene classificou de "episódio dramático" a morte da irmã Dorothy, mas não revelou como vai proceder para evitar novas execuções nas áreas de conflito agrário. Ele defendeu o Zoneamento Ecológico-Econômico, que elaborou há dois anos e está em discussão com representantes das classes política, econômica e de trabalhadores do Pará, além de organizações não-governamentais. Ressaltou investimentos na área de segurança, 12% do orçamento do Estado. E protestou: "A Amazônia tem sido sempre muito fértil na produção de mitos. Mudamos de inferno verde para celeiro do mundo dependendo do humor de quem nos olha. Transitamos de almoxarifado para santuário, dependendo da lente que põem para nos olhar."

Na segunda-feira, em São Paulo, o governador foi entrevistado no programa Roda Viva, da TV Cultura. Defendeu "ação integrada", dos governos federal, estaduais e municipais, para combater os bolsões de violência do País. Depois, ele falou ao Estado.

O que o sr. tem a dizer para os 150 marcados para morrer no Pará?

É importante que todo o Estado, governos federal, estaduais e municipais, enfim a sociedade, assumam em toda a extensão de que não é possível aceitar que algumas pessoas, para eliminar as diferenças, busquem eliminar aqueles que lhes são diferentes. Eu não sou daqueles, até porque acho que é uma hipocrisia, que dizem que o sistema de proteção pessoal é completo. Não existe no mundo e muito menos em determinadas zonas de conflito no Brasil, nos morros do Rio, no Pontal de Paranapanema, na Amazônia, em regiões do Nordeste.

Na prática, o que dizer aos 150?

Esse é um número absolutamente vago. 150 ou 180 ou 2 mil? O que temos que trabalhar é nesses bolsões de violência onde milhares de pessoas vivem em risco permanente. Não estou fugindo. Não tenho perfil nem caráter para isso, para ser hipócrita. Quando falo em Estado brasileiro não é eximindo a responsabilidade dos governos estaduais. Acho que o Estado, em seus três níveis, precisa assumir como prioridade o enfrentamento de determinadas questões que estão na raiz desses bolsões de pobreza. Uma ação integrada para combater as principais causas da violência no campo, a falta de regularização fundiária e de reforma agrária.

A federalização da morte da missionária é a confissão de fracasso do Pará?

Em nenhuma hipótese. Imagine se todos os casos fossem federalizados. As primeiras manifestações nessa direção já mudaram o tom. Acredito que nenhuma esfera de governo, isoladamente, tem a possibilidade de enfrentar desafios como esse. Particularmente nesses casos, a proteção é parcial. A primeira medida é retirar a pessoa de onde ela está. Ora, mas a razão da vida dela está ali, a luta dela está ali, sua motivação é ali.

O Pará é uma terra sem lei?

De jeito nenhum. Magoa muito, não só o governador, mas a sociedade paraense o fato de que não raramente tratam o Pará como não sendo o Brasil quando acontece um caso como esse. Mas se assume o Pará como o Brasil na hora em que o Pará gera 12% do saldo da balança comercial brasileira para equilibrar as contas deste país.