Título: 'Ou nós fazemos a reforma ou partidos vão sucumbir'
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2005, Nacional, p. A5

Uma semana depois da surpreeendente derrota governista na Câmara dos Deputados, o presidente do PT, José Genoino, diz estar "triturado". Mas afirma ter uma missão para este ano pré-eleitoral: convencer os partidos da necessidade de mudar as regras do jogo. "A infidelidade partidária chegou a um ponto tão degradante com esse episódio na Câmara que ou nós fazemos reforma política ou os partidos vão sucumbir", diz. Do fim de janeiro até a semana passada foram quase 50 mudanças de sigla entre os deputados. Muitas duraram o tempo de uma ponte aérea São Paulo-Rio. Genoino nega que o governo do PT tenha incentivado a prática para inflar a base aliada. "O tamanho das bancadas deve ser o que sai das eleições e valer para os quatro anos de mandato", propõe.

Genoino admite que o PT errava quando defendia candidaturas avulsas quando era oposição. "Era uma posição equivocada que o partido tem de revisar", observa. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estado:

O resultado da eleição na Câmara mostra a necessidade de uma reforma política?

Eu comparo com a imunidade parlamentar. Ficamos dez anos discutindo e não dava certo. Chegou a degradar tanto a imagem da Câmara que foi necessário eliminá-la. A infidelidade partidária chegou a um ponto degradante com esse episódio. Ou fazemos reforma política ou os partidos sucumbem diante do troca-troca. E tem de valer já para 2005. A Câmara não resistirá a uma nova legislatura com esse troca-troca.

O que a reforma política deve conter?

Primeiro, a fidelidade partidária. Segundo, o financiamento público de campanha. Terceiro, como conseqüência do financiamento público, a votação em lista, pré-ordenada, com proporcionalidade e rodízio das chapas. É preciso mudar o regimento da Câmara para suprimir do discurso constitucional as possibilidades de avulsos em geral.

Mas o governo do PT usou os mesmos métodos ao incentivar o toma lá-dá cá, para garantir a presidência da Câmara...

Não. Uma prova de que não houve nada disso é o resultado final da eleição. O governo não se intrometeu com outros métodos.

Por que o PT, quando era oposição, defendia as candidaturas avulsas?

Era uma posição equivocada, que o PT tem de revisar. De toda forma, nós nunca usamos candidaturas avulsas, usamos candidaturas alternativas, o que é diferente. Um exemplo de candidatura alternativa foi a do Aleluia (José Carlos Aleluia, deputado do PFL), um nome da minoria para polarizar. Mas não dá para se lançar candidato independente do partido. Esse foi o grave erro do Virgílio (Virgílio Guimarães, deputado do PT). Virou biombo para legitimar a pulverização das candidaturas.

Os outros partidos vão aceitar essa proposta de reforma?

Temos de fazer a negociação com todos os partidos, inclusive a oposição. E o PT está mais à vontade para tratar desses temas porque nós não fomos bem tratados pelos aliados. Temos de botar na reforma política que as bancadas parlamentares que saem das eleições deve valer para os quatro anos de mandato. O sistema atual de funcionamento do Legislativo é um problema sério para a democracia.

Por quê?

Porque não tem prazo de filiação, não tem prazo para contar as bancadas para distribuir postos nas comissões e representação na Mesa Diretora. Foi o vexame que se viveu na Câmara de segunda para terça e de terça para quarta-feira.

Há anos se fala na reforma política e ela nunca sai do papel..

Nós estamos só há dois anos no governo. FHC ficou oito anos e não fez. O primeiro ano do governo Lula foi muito difícil, por causa da agenda das Reformas da Previdência e Tributária, e o segundo, por causa da eleição municipal. O ano ideal é este.

Afinal, o PT vai punir ou não vai punir o deputado Virgílio Guimarães?

Eu digo o seguinte: o PT não pode abrir mão da disciplina e da fidelidade. É o seu projeto estratégico de partido que está em jogo. Eu quero presidir um partido, e não uma legenda que acomoda interesses e na qual cada um faz o que quer.

O que o senhor defende, então?

Não podemos transformar o deputado Virgílio em vítima. Quem foi vítima nessa história foi o PT e sua bancada. Virgílio contribuiu para a nossa derrota. No PT existe uma lei: quando nos dividimos numa batalha, perdemos. Então, se o PT não fizer nada abrirá um precedente que não terá mais limite. Esse episódio marcou muito. Eu estou triturado.