Título: Governo terá dificuldades em 9 das 20 comissões
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2005, Nacional, p. A5

A contabilidade do Palácio do Planalto na partilha do comando das 20 comissões técnicas da Câmara aponta dificuldades políticas para o governo em pelo menos cinco delas, que passam a ser presididas por adversários do PMDB, PFL e PSDB. Além disso, o Planalto terá de administrar dois representantes da esquerda do PT, e ter jogo de cintura para lidar com mais dois petistas: o independente Antonio Carlos Biscaia (RJ), à frente da Comissão de Constituição e Justiça, e o sempre crítico Paulo Delgado (MG), que passa a dirigir a Comissão de Educação e Cultura. A divisão de poder na Câmara também tirou das sombras o ex-presidente do Senado e deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), que sai dos bastidores e volta à cena política nacional na presidência da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática. E se por um lado o governo teve de amargar a indicação do rebelde Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) para presidir a Comissão de Finanças e Tributação, a ala governista do PMDB conseguiu emplacar o deputado Henrique Eduardo Alves (RN) à frente da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público.

Problemas à parte, a cúpula governista do PMDB avalia que quem acabou vencendo a guerra interna foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Afinal, o grupo do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, que é reconhecido como "inimigo n.º 1" do Planalto, não conseguiu abocanhar nenhum posto de poder na estrutura da Câmara.

Depois de filiar 13 deputados ao PMDB, Garotinho ficou fora da Mesa Diretora e ainda viu seu apadrinhado Saraiva Felipe (MG) ser mais uma vez despejado da liderança pelo governista José Borba (PR). Como se não bastasse, foi obrigado a assistir à derrota de seu candidato à comissão de Finanças, Eduardo Cunha (RJ), que perdeu o posto para Geddel.

A volta de Jader Fontenelle Barbalho três anos e quatro meses depois de ter deixado o Congresso cabisbaixo com a renúncia ao mandato de senador para evitar a cassação iminente por quebra de decoro parlamentar é contabilizada pelo governo como ganho. É que Jader deu ajuda preciosa ao Planalto, não só na crise interna como no tumultuado processo sucessório da presidência da Câmara.

O PFL ficou com duas comissões: a de Relações Exteriores e Defesa Nacional, com Aroldo Cedraz (BA), e a de Agricultura, com o líder ruralista Ronaldo Caiado (GO). Quinhão de poder semelhante coube aos tucanos, hoje à frente das comissões de Minas e Energia e de Turismo e Desporto.

O PP do presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PE), vai comandar as comissões de Seguridade Social e Família e Desenvolvimento Urbano. O PTB ficou com Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio e Defesa do Consumidor. Ao PDT coube Segurança Pública.