Título: Executiva do PT deve pedir hoje suspensão do rebelde Virgílio
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2005, Nacional, p. A8

A cúpula do PT fará hoje seu acerto de contas com o deputado Virgílio Guimarães (MG). Em reunião às 10 horas, a Executiva Nacional petista deverá aprovar a suspensão de Virgílio de todas as funções partidárias por, no mínimo, um ano. Será uma nova crise interna num ano que já começou difícil para o partido e para o governo Lula. Um dos fundadores do PT, o deputado mineiro enfrentou a direção da sigla e disputou a presidência da Câmara como candidato avulso. A rebeldia de Virgílio é tida como um dos principais fatores que levaram à maior derrota política do governo Lula e do PT. O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) não só perdeu o comando da Câmara como os petistas ficaram sem nenhum cargo na Mesa Diretora da Casa.

O secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, será o autor da representação que pede a suspensão de Virgílio por um ano e meio. Se o castigo for aprovado, ele não poderá falar pelo PT ou exercer cargos em nome do partido. E, pior, ficará sem legenda para disputar a eleição de 2006. Na prática, a pena equivale a uma expulsão. Embora negue, o deputado articula sua candidatura ao Senado.

"Virgílio contribuiu para a derrota do PT na Câmara e para a fragilidade partidária. Vou defender uma punição dura", disse Pereira. O secretário-geral pedirá ainda rito sumário, o mesmo usado para o deputado João Fontes (SE), que divulgou fita de vídeo com falas de Lula, de 1987, mostrando contradições entre o discurso da época e o atual.

"Vou defender o rito sumário, que não requer investigação ou comissão de ética para a aplicação da punição", avisou Pereira. "Virgílio concorreu a presidente da Câmara contra Greenhalgh e assumiu (o risco). O caminho da comissão de ética é mais longo e demorado."

O artigo 210 do estatuto do PT prevê nove tipos de punição. As penalidades vão de advertência reservada ou pública - medida disciplinar mais branda - à perda de mandato. Qualquer que seja a posição dos 23 integrantes da Executiva petista, ela servirá de indicativo, já que a decisão final é de competência do Diretório Nacional, que terá sua próxima reunião em 8 e 9 de abril.

Na opinião de Sílvio Pereira, Virgílio não feriu um, mas vários dispositivos do estatuto. "Ele diz que não feriu nenhum dispositivo, mas isso só pode ser brincadeira. Feriu vários. O que se trata agora é do tamanho da punição", ressaltou, descartando qualquer possibilidade de o deputado sair ileso do processo.

Um dos artigos do estatuto petista que Virgílio feriu, segundo Pereira, é o 209. O 2.º parágrafo do artigo diz que constituem infrações éticas e disciplinares "o desrespeito à orientação política ou a qualquer deliberação regularmente tomada pelas instâncias competentes do partido, inclusive pela bancada a que pertencer o ocupante de cargo legislativo".

O presidente do PT, José Genoino, tentou amenizar a crise. "Minha função é arbitrar", desconversou. "Mas acho que o que o Virgílio fez foi muito grave."

REFORMA

Além de definir a situação de Virgílio, a reunião da Executiva petista também vai tratar de temas como a reforma política e as eleições internas do partido, marcadas para setembro. Genoino antecipou que vai propor que a reforma política seja "a prioridade das prioridades" dos petistas. "Vou propor uma reunião com a bancada para que possamos afunilar os pontos de consenso", comentou.