Título: Lessa agora nega ter feito denúncia a Lula
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2005, Nacional, p. A6

O ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Carlos Lessa disse em entrevista, depois de depor por quatro horas ao Ministério Público Federal, que acha que não é o "companheiro" citado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 24 de fevereiro em Jaguaré (ES), mas também não tem certeza de que não é. Na ocasião, Lula contou que um "alto companheiro" teria lhe dito em 2003 que "a corrupção" antes do atual governo foi "muito grande" e algumas privatizações teriam deixado uma instituição "quebrada", ao que o presidente teria orientado o interlocutor a só falar disso com ele e "fechar a boca daí para fora". No mesmo dia, em entrevista ao Estado, Lessa assumiu que era o companheiro mencionado, avaliando que o diálogo seria a respeito do BNDES.

Suas declarações, assim como as de Lula em Jaguaré, levaram o Ministério Público de São Paulo a convocar Lessa para depor. Ele passou à condição de testemunha na ação que desde 2004 investiga acusações de improbidade administrativa na privatização da Eletropaulo, vendida em 1998 para a empresa americana AES, com financiamento do BNDES.

"Acho que não sou esse interlocutor", afirmou Lessa ontem. Ele argumentou que acha que não era dele que o presidente falava porque garantiu que nunca afirmou que o BNDES estava quebrado nem encontrou corrupção no banco. "E em nenhum momento o senhor presidente me sugeriu que jogasse poeira sob o tapete."

Mas ele tem dúvidas se é ou não a pessoa citada. "Só posso ter certeza quando o presidente falar", explicou. "O que ele disse lá (em Jaguaré), eu nunca falei para ele, mas falei horrores para o presidente. Disse que ia ser uma pauleira administrar o BNDES e que recebi um banco que tinha sido moído", contou.

ESQUELETO

"Eu nunca disse ao presidente que o BNDES estava em situação falimentar ou pré-falimentar", insistiu Lessa. "Disse sim que havia encontrado esqueletos dentro do banco e a presença desse esqueleto (a dívida de US$ 1,2 bilhão da AES) obrigava à capitalização do BNDES."

O problema é que, se não fosse feito o acordo de renegociação da dívida com a AES, que acabou sendo realizado em novembro de 2003, o crédito de US$ 1,2 bilhão que o BNDES tinha a receber da empresa causaria um grande impacto na sua contabilidade. Pelas regras do sistema financeiro, isso reduziria a capacidade da instituição de fazer empréstimos.

A capitalização não foi realizada, mas deixou de ser necessária, de acordo com Lessa, porque a renegociação levou o banco a terminar aquele ano com lucro. "Se nós não tivéssemos concluído a renegociação até 31 de dezembro, o BNDES teria tido o maior prejuízo da sua história", assegurou.