Título: Greenhalgh culpa ministros por dificuldade na Câmara
Autor: Cida FontesEugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2005, Nacional, p. A6

O candidato oficial do PT à presidência da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), está sentindo na pele os desacertos da relação de alguns ministros com o Congresso. Durante jantar na casa do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), na noite de quarta-feira, o candidato reclamou da falta de empenho de alguns setores do governo. As queixas tiveram o respaldo de líderes dos partidos aliados, que centraram os ataques nos ministros da Saúde, Humberto Costa, e da Integração Nacional, Ciro Gomes. Estou pagando por coisas que o governo promete e não cumpre", comentou Greenhalgh - desabafo que foi presenciado pelos ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Além destes, estiveram no encontro líderes de seis partidos governistas. A maior preocupação é evitar que a disputa pelo comando da Câmara chegue ao segundo turno. Os líderes do PMDB, PL, PP, PSB e PC do B tiveram uma conversa franca com o candidato, apontando os problemas de cada bancada. Mesmo em meio às dificuldades políticas, o candidato teria 253 votos, incluindo 25 do PFL e PSDB. Mas garantidos, mesmo, Greenhalgh tem 220. "Luiz Eduardo é o candidato do governo e precisamos ganhar", enfatizou Dirceu, que classificou de "inominável" o comportamento do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) de se lançar como candidato avulso. INDISCIPLINA Se não bastassem as reclamações com o governo, os líderes apontaram a indisciplina no PT como outro motivo para o enfraquecimento da candidatura Greenhalgh nas bancadas. Na tentativa de consolidar o petista, será montado um plantão em Brasília a partir da próxima quinta-feira e os líderes se comprometeram a orientar as bancadas a votar em Greenhalgh. Uma das preocupações está localizada no PMDB, apesar da expectativa de o grupo governista contribuir com 35 votos. Aproveitando-se da fragmentação na base aliada, os oposicionistas do partido conseguiram aumentar a bancada para 85 deputados e, de quebra, estão ameaçando a recondução do deputado José Borba (PR) na liderança. Coincidentemente, Borba foi um dos que mais se queixaram no jantar na casa de João Paulo. As dificuldades em confirmar audiências e o cancelamento de convênios foram as principais reclamações contra os ministros Ciro Gomes e Humberto Costa. "O ministro da Saúde foi desossado no jantar", brincou um líder. "Alguns ministros do governo estão agindo como inimigos do candidato oficial", completou outro deputado. COMPROMISSOS Greenhalgh divulgou ontem uma carta com 21 compromissos de campanha para serem implementados na Casa entre os anos de 2005 e 2006, caso sua eleição seja confirmada. Segundo o documento, veiculado pelo portal do PT na internet e assinado pelo parlamentar, os compromissos estão divididos em quatro grupos: autonomia da Câmara e valorização da iniciativa parlamentar; divulgação da atividade parlamentar; modernização e aperfeiçoamento da infra-estrutura de apoio à atuação parlamentar; e interação com órgãos públicos e sociedade civil . Entre as propostas, destacam-se a tentativa de revisão do procedimento de tramitação de medidas provisórias, "para que obedeçam os princípios de urgência e relevância"; transformação da TV Câmara em canal de televisão aberto à população; melhorias de gabinetes do Anexo III da Casa; e a implementação de um plano de carreira para servidores, com treinamento e aperfeiçoamento dos profissionais. Na carta ele propõe também "atuar com firmeza e independência na construção da agenda da Câmara dos Deputados". Para tanto, segundo proposta de Greenhalgh, "a presidência elaborará e divulgará agenda mensal de sessões deliberativas, com a indicação dos projetos a serem apreciados". Em relação ao Poder Executivo, a idéia é "estabelecer novo tratamento na execução orçamentária das emendas parlamentares, independentemente da posição política ou filiação partidária do seu autor". "Estas emendas deverão ser preservadas de contingenciamento ou cancelamento, garantindo-se a liberação dos recursos correspondentes de forma proporcional no decorrer do ano." Em relação às medidas provisórias, o candidato propõe "entendimentos para que a edição de MPs obedeça os princípios de urgência e relevância.