Título: AL precisa de reformas para continuar a crescer, diz FMI
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2005, Economia, p. B3

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reiterou ontem a necessidade do aprofundamento de reformas econômicas na América Latina para manter e aumentar as taxas de crescimento de 4% a 5% que a região alcançou recentemente. "A atual conjuntura da região é extremamente favorável, ... as reformas estão acontecendo e acho que a região tem todas as razões para ser otimista", afirmou o diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo, Anoop Singh, ao divulgar um estudo intitulado "Estabilização e Reforma na América Latina". Ele acrescentou que a intenção dos países de sustentar as atuais taxas de crescimento é "eminentemente alcançável". O trabalho faz um balanço positivo dos progressos realizados e sobre a nova disposição dos governos de responder às demandas da população por políticas de preços estáveis. Mas lembra que o PIB regional per capita diminuiu 0,1% no período de 1998 a 2003 e aponta causas domésticas para explicar o alto desemprego, a pobreza e a desigualdade e as vulnerabilidades que a economia da região como um todo e os países individualmente continuam a exibir. Em conseqüência desses fatores internos, "o fosso de padrão de vida comparado com a América do Norte aumentou na última década e a América Latina continuou a ficar para trás em relação às economias com crescimento mais acelerado".

Singh afirmou que a dívida pública na região permanece muito elevada e são necessários esforços contínuos para reduzi-la a níveis sustentáveis. Do lado positivo, o diretor do Fundo destacou a maior consciência dos governos - sejam de direita ou de esquerda - sobre a importância das reformas.

MUDANÇAS

"Nos anos 90, a dívida pública aumentou e hoje vemos uma consciência maior sobre por que a inflação precisa permanecer baixa, por que a independência do banco central é importante e por que a dívida pública precisa continuar a ser reduzida". O Fundo projeto um crescimento de 4% para a região este ano, 1% menos do que a América Latina alcançou no ano passado.

Segundo Singh, o grande desafio da região é promover mudanças que estimulem novos recursos domésticos e externos nas economias dos vários países e avançar na construção das instituições capazes de consolidar a estabilidade fiscal, que inclui a infra-estrutura legal, dar maior flexibilidade e dinamismo ao mercado de trabalho e tornar os governos mais fortes e eficientes na execução da tarefa que lhes cabe de montar e manter uma rede de segurança social.

O diretor do Fundo destacou também o peso crescente do impacto do comércio no crescimento recente da região, reiterando o conselho do Fundo por uma maior abertura. Singh disse ainda que "a ênfase não deve estar nas politicas de curto prazo, mas na construção da estrutura institucional para o longo prazo ... com o objetivo de reduzir as vulnerabilidades da economia e tornar os países mais resistentes às crises". "Crises não podem ser evitadas por ajustes de última hora", afirmou.