Título: Para Levy, a TJLP deveria seguir a Selic
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2005, Economia, p. B1

Controle de preços seria mais eficiente, diz secretário BRASÍLIA - A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) deveria aumentar junto com a Selic para que os efeitos da política monetária fossem mais eficientes no controle dos preços, disse o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, ao Estado. Para ele, a falta de correlação entre os diversos sistemas de crédito do País e a Selic obriga o Banco Central a dobrar a dosagem na fixação das taxas de juros para que a inflação convirja para a meta definida pelo governo. A TJLP está inalterada desde abril, quando foi fixada em 9,75% ao ano, não acompanhando, portanto, as correções praticadas no juro básico, que está em 18,25% ao ano. Levy considera importante a desobstrução do que chama de "canais de transmissão" da política monetária, entre eles, a própria TJLP, que influencia a oferta de crédito na economia e, conseqüentemente, o controle da inflação. Como a Selic é a taxa de juro básica, ela deveria influenciar a formação das demais taxas e ativos financeiros. Seu raciocínio é o seguinte: se a Selic está subindo, porque o BC está preocupado com o aumento dos preços, a TJLP (taxa que corrige principalmente os empréstimos concedidos pelo BNDES e é fixada pelo Conselho Monetário Nacional), também deveria ter uma trajetória ascendente, repassando para os tomadores de crédito os efeitos da alta dos juros.

A seguir os principais pontos da entrevista:

DOSE DUPLA

Temos um desafio para 2005, que é reduzir a inflação, manter a consistência das políticas macroeconômicas e aprimorar a estrutura do mercado financeiro para diminuir a carga sobre a Selic. Não é preciso ser um especialista para reconhecer que a Selic é um instrumento-mestre da política monetária, mas que precisa ser apoiado. Se as outras taxas forem na direção contrária à da Selic, será preciso aumentar a taxa em porcentual maior do que aquele que poderia ser praticado se todas as taxas se movessem em harmonia. Ter uma combinação de políticas que reduzam essa carga é importante. Senão, sempre vamos ter Selic em dose dupla. A TJLP é uma opção. Por afetar o capital de giro das empresas, pode ter um papel de propagação da política monetária bastante positivo.

CANAIS

A Selic atinge um segmento relativamente pequeno do setor financeiro. No exterior, as firmas se financiam com commercial papers. Quando os Fed Funds (taxa de referência nos EUA) sobem, a taxa dos commercial papers também sobe. Aqui no Brasil isso não acontece porque o crédito direcionado, por razões legítimas, tem um peso grande no financiamento de parte do setor produtivo. A Selic é o instrumento correto, mas os canais de transmissão da política monetária precisam ter liberdade para agir. Muita gente gosta de criticar a política monetária, mas é importante observar o ambiente em que ela opera.

IPA

O BC tem analisado o comportamento do IPA, o Índice de Preços no Atacado, e identificou os elos das cadeias de produção que estão elevando seus preços, o que significa pressão sobre a inflação nos meses seguintes. O IPA indica a transmissão do choque de demanda.