Título: PT fecha questão e impõe voto no candidato oficial
Autor: Cida Fontes Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Nacional, p. A4

Decisão abre caminho para a punição de Virgílio Guimarães, que não pode concorrer em nome do partido BRASÍLIA - A cúpula do PT abriu caminho para a punição do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), candidato avulso à presidência da Câmara. Em reunião de mais de três horas na quinta-feira à tarde, em São Paulo, a executiva nacional petista decidiu fechar questão em favor da candidatura oficial de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), nome apoiado pelo Palácio do Planalto. Preocupados com a possibilidade de Greenhalgh não vencer no primeiro turno a eleição marcada para a próxima segunda-feira - o que indicaria com todas as letras a fragilidade do Planalto -, governo e PT resolveram jogar pesado. Negociação de cargos, emendas e até apelos dramáticos a ministros de partidos aliados - convocados ontem para mutirão de fim de semana em busca de votos para Greenhalgh - entraram na briga pelo comando da Câmara. No jargão do PT, o fechamento de questão significa obrigar os 90 deputados da legenda a apoiar Greenhalgh, embora o voto seja secreto. Mais do que isso, a decisão indica para a base aliada que o único candidato do PT é Greenhalgh e que o rebelde Virgílio será penalizado se levar adiante sua empreitada. Traduzindo: ele não pode concorrer em nome do partido.

O tipo de punição a Virgílio não está acertado. Pode ir de afastamento da bancada e "geladeira" política até a expulsão do PT, um processo mais traumático, que demandaria tempo. No governo, a irritação com o deputado mineiro é geral, principalmente depois que ele se aliou ao secretário de Governo do Rio, Anthony Garotinho (PMDB), arquiinimigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Além de escancarar a fragilidade do Planalto, uma derrota de Greenhalgh elevaria o custo político para aprovar projetos de interesse do governo. Mais: aumentaria a dificuldade dos estrategistas de Lula em montar a coalizão de apoio para sua releição, em 2006.

REUNIÃO SECRETA

Foi por causa de todos esses problemas que o PT decidiu antecipar em um dia a reunião de sua executiva, em São Paulo. Realizado secretamente depois que os dirigentes petistas cortaram o bolo para comemorar os 25 anos do partido, o encontro contou com a presença de 13 dos 21 integrantes da executiva. Apenas o baiano Jorge Almeida, secretário de Movimentos Populares, foi contra a decisão que possibilita a punição de Virgílio.

Se a cúpula do PT não interviesse em favor de Greenhalgh, na prática não poderia agir contra a desobediência do adversário petista. "Eu fiz de tudo para demover Virgílio dessa decisão. Conversei, pedi desculpas publicamente e nada. Cheguei ao meu limite", afirmou o presidente do PT, José Genoino.

Genoino se recusa a falar qual será o castigo aplicado ao deputado mineiro. Na avaliação do Planalto, se a punição ocorresse antes da eleição, Virgílio posaria de vítima. "Não é hora de falar sobre isso", desconversou Genoino. No outro front, Virgílio parece ignorar a decisão da cúpula petista e segue em campanha, com aval do baixo clero. Tanto que marcou para amanhã jantar-dançante em apoio à candidatura, no Hotel Nacional. O mineiro jura de pé junto que a maratona não é por cargos no governo. Na prática, Virgílio quer mesmo é ser o candidato do PT ao Senado, em 2006, por Minas. Mas até agora o governo promete a vaga para o embaixador do Brasil em Roma, Itamar Franco.