Título: Planalto põe 10 ministros em ação para garantir vitória de Greenhalgh
Autor: Cida Fontes Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Nacional, p. A4

Rolo compressor governista é mobilizado para assegurar eleição do candidato oficial do PT já no primeiro turno BRASÍLIA - O governo intensificou ontem o "rolo compressor" para eleger o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) à presidência da Câmara segunda-feira. Com o compromisso dos ministros de agirem na arregimentação de votos e o reforço do corpo-a-corpo, cresceu o clima de confiança na base governista. O cálculo no café da manhã na casa do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), que reuniu 10 ministros e todos os líderes aliados, incluindo o do PDT, era de mais de 250 votos em favor de Greenhalgh. Para o presidente do PT, José Genoino, o apoio já teria chegado a 270 votos. "E podemos fazer mais", previu Genoino, ao iniciar operação que extrapola o Congresso: em troca dos votos da bancada tucana a Greenhalgh, ele negocia o apoio do PT ao PSDB para eleger o presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo. O líder do PT na Assembléia, Candido Vacarezza, irá amanhã a Brasília para discutir com as cúpulas petista e tucana.

No café da manhã, Greenhalgh pediu que todos continuem trabalhando e dos ministros e líderes posições firmes em seu favor. Genoino foi escalado para falar com presidentes de partidos e os ministros e líderes, para reforçar a mobilização nas bancadas no fim de semana. "O café da manhã serviu para mostrar força e interesse do governo na eleição", avaliou o presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), para quem Greenhalgh terá 40 dos 47 votos do PL.

No encontro, João Paulo foi duro ao cobrar maior atenção dos ministros aos deputados, citando audiências e telefonemas que são recusados. No fim, ele pediu ajuda efetiva dos ministros para que não haja perigo de derrota do governo. Dos dez ministros presentes, só Roberto Rodrigues, da Agricultura, não tem partido. Mesmo assim entrou na ofensiva e foi conversar com a bancada ruralista a favor de Greenhalgh. Outro ministro acionado pelo governo é o da Fazenda, Antonio Palocci, que tem conversado com deputados, inclusive da oposição. Na quinta-feira, ele teve um encontro com outro candidato ao comando da Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA).

Os deputados elogiam Rodrigues e Palocci, mas reclamam de outros ministros. Os principais alvos continuam sendo Ciro Gomes (Integração Nacional), Olívio Dutra (Cidades) e Humberto Costa (Saúde). Ciro ficou pouco no café da manhã, saindo com o ministro Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) diretamente para o aeroporto, para acompanhar Lula na visita a Pernambuco. Humberto Costa e Olívio Dutra não compareceram. "O ministro das Cidades nem sequer recebe os líderes da base do governo", reclamou o líder do PSB, Renato Casagrande.

Alfredo Nascimento (Transportes) se reuniu já à tarde com a bancada do PL, seu partido. Costa Neto informou a Genoino que conseguiu reverter quatro votos que estavam prometidos aos candidatos Virgílio Guimarães (PT-MG) e Severino Cavalcanti (PP-PE). "Temos de cuidar bem do corpo-a-corpo e, numa eleição, é preciso ficar atento até o último voto", disse Genoino. "Dá para ganhar no primeiro turno com segurança", acrescentou Costa Neto, explicando que o PL não fecharia questão, já que a votação é secreta.

"ELEFANTE"

A principal dificuldade entre os partidos aliados está no PMDB. O grupo governista está preocupado com o crescimento da bancada pelas mãos do ex-governador Anthony Garotinho, que trabalha para destituir José Borba (PR) da liderança. No café da manhã, o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, contou que estaria disposto até a reassumir sua cadeira na Câmara temporariamente para garantir a votação do PMDB.

A pressão sobre Eunício aumentou muito já que, segundo aliados do Planalto, teria sido um dos articuladores do ingresso de Garotinho no partido. "O PMDB tem um elefante dentro de uma loja de cristais", brincou Casagrande.

Genoino foi claro ontem ao afirmar que o PMDB terá de mostrar qual o tamanho do partido que está aliado com o Planalto. "Queremos uma aliança mais estável para 2005 e 2006", avisou.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), destacou no café da manhã que o troca-troca partidário prejudica a imagem do Congresso. Ele se somou aos deputados que pedem medidas para frear a migração. Uma seria antecipar para 15 de dezembro a data-limite para efeito da distribuição de cargos nas comissões técnicas.