Título: Lula acusa Justiça e governadores de barrar transposição
Autor: Angela Lacerda Enviada especial
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Nacional, p. A5

Presidente diz em Pernambuco que Ibama não está atrapalhando obra no São Francisco , que vai `dar mais sustança¿ ao nordestino SURUBIM - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que alguns governadores - sem citar quais - e o Poder Judiciário são as principais barreiras ao projeto de transposição das águas do Rio São Francisco. "O Ibama não é barreira não, o Ciro Gomes (ministro da Integração Nacional) está trabalhando com o Ministério do Meio Ambiente", disse Lula, em discurso na inauguração da terceira etapa do sistema adutor da Barragem de Jucazinho, em Surubim, a 124 quilômetros do Recife. Ele acrescentou que a transposição "dará mais sustança" ao povo nordestino. "Não se tem o direito de ver a água do Rio São Francisco ser levada ao oceano, ser misturada à água salgada, sem poder tirar um pouquinho, uma cuia, para levar a 10 milhões de famílias", ressaltou. Quem "está no bem bom", segundo Lula, não sabe o que é andar quilômetros - como ocorreu com ele na infância - para buscar um pote d¿água.

Para uma platéia de 500 pessoas, a maioria levada em veículos patrocinados pelo prefeito Flávio Nóbrega (PT), Lula disse que o Nordeste não comporta medidas paliativas. "Ou assumimos a responsabilidade de tornar a região altamente desenvolvida, ou daqui a 30 anos estaremos jogando a culpa na seca ou na indústria de São Paulo." Ele avaliou que o Nordeste continua pobre porque nunca foi tratado como prioridade pelos ex-presidentes.

Ciro falou das incompreensões em relação ao projeto, que disse receber "com humildade". Acrescentou, porém, que confia no coração do nordestino, "que não será capaz de negar água a quem está precisando". O ministro também elogiou a iniciativa de Lula e aproveitou para alfinetar os governos anteriores: "O Nordeste pode ter a segurança de que seus problemas estão sendo tratados com a seriedade que eu, como amante da história do Brasil, só posso comparar ao presidente Juscelino Kubitschek." E emendou, falando de quando assumiu a Integração: "O ministério estava desmontado, entregue a um balcão de fisiologia e de clientelismo, sem projeto."

CRESCIMENTO

Na solenidade, o presidente demonstrou bom humor e otimismo ao comemorar a notícia de que o crescimento da indústria brasileira em 2004 foi o maior desde 1986. "Encontramos o caminho, daqui para a frente não tem choro nem vela", afirmou. "Neste ano a economia vai muito melhor, vamos crescer mais, não existe lugar para pessimismo neste país."

Para Lula, o Brasil nunca foi tão respeitado - "quem viaja o mundo, sabe" - e nunca houve tanta esperança. "Em vez de ficar choramingando, vamos levantar a cabeça e pensar: o que posso fazer pelo meu País hoje, o que posso fazer pela minha cidade? Não tem nada que esteja ruim que a gente não possa melhorar, é só a gente acreditar."

Lula criticou a cultura de governantes de começar grandes obras e deixar a conclusão para o sucessor - o que muitas vezes acaba não ocorrendo. E usou a inauguração da terceira etapa do sistema adutor de Jucazinho - que ampliou a distribuição da água da barragem para 11 municípios - e a autorização da quarta e última etapa, que vai levar a água para outros dois, como exemplo da nova posição do governo federal, de dar continuidade a obras importantes.

CUSTO

Jucazinho é promessa desde o governo Collor. Começou a ser estruturada no governo Itamar Franco e teve a barragem iniciada e inaugurada no governo Fernando Henrique Cardoso.

Com adutoras e ramais distribuindo a água da barragem para municípios ao norte e ao sul de Surubim, a obra, quando concluída, terá um total de 180 quilômetros - hoje tem 135 quilômetros. Até agora, já consumiu R$ 165,6 milhões.