Título: Mercado vê interferência do BC na Petrobrás
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2005, Economia, p. B1

Analistas afirmaram que a ata do Copom, que prevê a manutenção dos preços da gasolina este ano, independentemente do aumento do petróleo no mercado internacional, revela uma "interferência direta" do Banco Central no setor no País. "Não foi nem uma sugestão velada, mas revela uma ingerência política num setor que não deveria estar sob controle", afirmou um economista especializado em petróleo de instituição financeira de São Paulo, que pediu anonimato. Já para uma analista do Rio, as coisas estão ficando mais claras. "Basta agora que a Petrobrás assuma que tem mesmo sido pressionada a manter seus preços para não afetar aspectos da macroeconomia", diz ela, que também pediu para não ser identificada.

O diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, julga a opinião do Copom otimista e temerária. "É consenso mundial que os preços da gasolina devem bater seu recorde este ano. Dizer que não haverá reajuste no mercado interno é submeter a Petrobrás a novas perdas além das já registradas", disse, lembrando que a área de combustíveis da estatal teve queda de 50% em seus lucros em 2004, enquanto outras companhias do setor aumentaram seu ganho em 70% no mesmo período.

"Desde janeiro, os preços no mercado internacional já subiram em 30%, o que fez todos os bancos, agências e demais organismos e empresas ligados ao setor a reverem suas previsões para 2005. Só o Banco Central parece não querer enxergar isso", comentou Pires. Segundo cálculos do CBIE, a gasolina está hoje 13% mais barata no Brasil do que no mercado internacional e o diesel apresenta defasagem de 18%.