Título: Estudos para a venda de álcool ao Japão começam em abril
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2005, Economia, p. B6

Japoneses têm US$ 8 bilhões para financiar aumento da área plantada de cana

BRASÍLIA - Os primeiros estudos para que o Brasil possa começar a fornecer biocombustíveis para o Japão começarão a ser desenvolvidos em abril e devem se estender até dezembro. O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, informou ontem que a Japan Bank for International Corporation (JBIC) e a consultoria Pacific Consulting International farão, nesse período, um estudo piloto para avaliar a possibilidade de o País comercializar o combustível.

Depois da análise, que será feita em território brasileiro, o JBIC definirá se vai liberar recursos financiar a produção que atenderá à demanda do Japão.

Se os japoneses quiserem comprar álcool do Brasil, o Japan Bank poderá alocar recursos para aumento da área plantada de cana-de-açúcar e para construção da logística de transporte. O banco tem disponibilidade total de recursos de US$ 100 bilhões, dos quais US$ 8 bilhões poderão ser destinados ao Brasil.

Ontem, técnicos do governo brasileiro e do Japão assinaram um termo de referência com o banco para estabelecer um acordo bilateral de execução do Programa Brasileiro de Agricultura Energética.

Em agosto do ano passado, o governo japonês autorizou a mistura adicional de 3% de álcool na gasolina. Por ano, os japoneses consomem 56 bilhões de litros de gasolina e a mistura de 3% significaria 1,8 bilhão de litros de álcool. Esse volume representa cerca de 11% do total da produção brasileira, que é de 15,3 bilhões de litros.

O presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, reafirmou que o Japão tem grande interesse em comprar álcool combustível do Brasil.

"Não é possível falar em prazos para a comercialização, mas é possível detectar uma vontade nesse sentido", comentou, após reunião com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

Carvalho disse que é possível a venda em até dois anos. As negociações com o Japão perduram por cerca de três anos e meio.

SEM RISCOS

O dirigente da Unica e empresários do setor estiveram no mês de janeiro em Tóquio para esclarecer as dúvidas dos japoneses sobre a mistura de álcool na gasolina. Os empresários brasileiros querem abocanhar parte desse mercado.

Na reunião com Rodrigues, Carvalho relatou o cronograma da visita ao Japão. O grupo, formado por 12 pessoas, visitou centros de pesquisas que desenvolvem trabalhos com biocombustíveis, corretoras internacionais, petrolíferas, indústrias automobilísticas e vários ministérios japoneses.

Para fechar negócios com o Brasil e tornar obrigatória a mistura, os japoneses querem garantia de abastecimento, lembrou Carvalho.

"Tenho repetido que exportar álcool não significa desabastecimento interno. Temos condições de atender a todas as demandas", comentou.

No ano passado, o Brasil exportou cerca de 2,3 bilhões de litros de álcool. Europa, Estados Unidos e Ásia foram os principais destinos. Sem citar números, técnicos do ministério lembram que o Brasil vende álcool para fins industriais para o Japão.

No Brasil, o consumo anual de álcool oscila entre 13 bilhões e 14 bilhões de litros. O Protocolo de Kyoto, acordo internacional que prevê a redução das emissões globais de gases, deve entrar em vigor em duas semanas, o que deve despertar o interesse de outros países por biocombustíveis.