Título: Planalto negocia até último minuto para eleger Greenhalgh no 1.º turno
Autor: Eugênia LopesCida FontesColaborou: James Allen
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2005, Nacional, p. A4

O novo presidente da Câmara será escolhido amanhã, depois de uma disputa acirrada na base aliada, que forçou o Palácio do Planalto a entrar abertamente na briga em favor do candidato oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Em uma ofensiva inédita, que prosseguia em várias reuniões ontem, o governo se envolveu inteiramente na disputa, a ponto de adiar a reforma ministerial. Para ajudar no convencimento dos votos, o Planalto convocou seu exército de ministros com influência junto aos deputados e não poupou nem o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, também encarregado de conversar com os partidos de oposição. Mesmo sem mandato ou vinculação partidária, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, foi destacado para a missão de convencer a bancada ruralista a votar no candidato oficial do PT. Os votos dos cerca de cem deputados ligados ao agronegócio estão sendo cobiçados por todos os candidatos. Greenhalgh enfrenta séria resistência junto ao grupo por ter defendido a causa dos integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST). Amanhã, o petista dá sua última cartada e se reúne justamente com os ruralistas.

O processo tumultuado dentro do PT para escolha do candidato à sucessão de João Paulo Cunha (PT-SP), somado à desarticulação da base aliada, levou a um clima de desobediência generalizada. Os líderes perderam o controle de suas bancadas a partir do momento em que o deputado Virgílio Guimarães (MG) lançou a candidatura avulsa, à revelia do PT.

Em meio à divisão do PT e a insatisfações dos aliados com o governo, a campanha de Greenhalgh conta os votos no escuro. É uma votação secreta, o que dá margem a traições. Os aliados do petista não tiveram outra saída a não ser cobrar o respeito à proporcionalidade das bancadas. Ou seja: cabe ao maior partido da Casa, que hoje é o PT, indicar o presidente. "Se não respeitarmos a proporcionalidade, acaba o respeito à maioria", alerta o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo.

IMPUGNAÇÃO

A cúpula do PT ainda não desistiu de tentar convencer Virgílio a abandonar sua candidatura, mas ele continua irredutível. O deputado entrou, no entanto, em uma jogada de risco ao se aliar a grupos de partidos conservadores, conhecidos pelo perfil fisiológico, e ao ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PMDB), um dos principais adversários do governo Lula. O mineiro rebate as críticas e prefere chamar seus correligionários de "novo clero".

Ontem, o foco do esforço final do PT para consolidar a vitória de Greenhalgh foi justamente o PMDB oposicionista. O PT se uniu aos peemedebistas governistas, que formalizaram à executiva nacional do partido um pedido para impugnar oito filiações feitas por Garotinho. Depois de se reunir com o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, e com o líder do PMDB na Câmara, José Borba (PR), João Paulo encaminhou ofício à direção nacional do partido pedindo informações sobre os parlamentares. A estratégia é minar Garotinho que, com as novas filiações, acumulou mais poder no PMDB e atua para destituir Borba da liderança.

Os reflexos do troca-troca partidário que mexe, sobretudo, com as bancadas do PMDB e PTB foi um dos assuntos discutidos na reunião de avaliação da candidatura de Greenhalgh ontem, com a participação do petista, de João Paulo e dos líderes de partidos aliados. O presidente do PT, José Genoino, esteve com o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), e ouviu dele que a maioria da bancada apoiará Greenhalgh.

Na antevéspera da eleição, o clima de disputa se acirrou. Os adversários de Greenhalgh acusaram João Paulo de ter usado a máquina administrativa ao realizar café da manhã na sua residência oficial com os 10 ministros escalados para a campanha. Ele rebateu dizendo que as despesas ficaram por conta dos deputados.

Depois do envolvimento direto dos ministros, o comando da campanha de Greenhalgh ficou confiante e aposta na vitória em primeiro turno, embora por margem apertada de votos.

O quadro deverá ficar mais claro apenas depois das reuniões de hoje e amanhã. Já a maioria dos líderes aposta em um segundo turno, porque 5 deputados disputam a presidência da Câmara - além dos petistas, concorrem Severino Cavalcanti (PP-PE) - que colocou o seu partido, candidato a ganhar um ministério, numa saia-justa -, José Carlos Aleluia (PFL-BA) e Jair Bolsonaro (PFL-RJ).

Será eleito em primeiro turno quem obtiver a maioria dos votos válidos mais um. Ou seja: se 500 deputados votarem, terá de ter, no mínimo, 251 votos. Ocorrerá segundo turno entre os dois mais votados caso nenhum deles consiga maioria. Nos últimos 35 anos, não houve segunda rodada na eleição.