Título: Atividade industrial perde fôlego
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2005, Economia & Negócios, p. B4

Apesar de as vendas terem crescido em fevereiro, setor não se recupera do tombo de janeiro, segundo pesquisa da CNI As vendas da indústria reagiram em fevereiro, mas a Confederação Nacional da Indústria (CNI) alertou que os indicadores "mais positivos" camuflam a perda de fôlego da atividade manufatureira no período. O aumento das vendas não teria sido suficiente para compensar o tombo de janeiro, sustentou o coordenador de Política Econômica da entidade, Flávio Castelo Branco. A elevada taxa de juros reais no País e a valorização da taxa de câmbio estão na raiz desse arrefecimento da atividade industrial e, uma vez mantidas, poderão trazer "sérios danos" à economia brasileira no segundo semestre, segundo o economista. Os indicadores industriais da CNI apontaram que, em fevereiro, as vendas do setor aumentaram 2,85%, em relação a janeiro. O porcentual, entretanto, não foi suficientemente expressivo para cobrir a queda registrada no mês anterior, de 3,20%. No bimestre, o faturamento da indústria aumentou apenas 3,47%, na comparação com igual período de 2004. No cálculo desses porcentuais foram desconsiderados fatores sazonais.

Segundo Castelo Branco, não se pode dizer que a atividade esteja em flagrante queda. Mas pode-se afirmar que o forte vigor verificado no primeiro semestre de 2004 está se perdendo.

"Há descompasso nas decisões do Banco Central sobre a taxa básica de juros (a Selic). A política monetária tem sido mais rigorosa que o necessário", afirmou. "É extremamente perigoso manter a Selic elevada por um período mais longo porque poderá trazer danos permanentes ao setor industrial no segundo semestre."

Conforme explicou o economista, a taxa Selic de 19,25%, definida em março, corresponde a juros reais em torno de 13%. Castelo Branco disse que a alta da Selic tem seus efeitos defasados no tempo, ou seja, seus impactos tendem a ser mais fortes nos próximos meses.

Sem sinais de arrefecimento, essa trajetória prejudicará as decisões de investimento e de produção da indústria no segundo semestre. Segundo Castelo Branco, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) teria indicado o fim próximo do ciclo de ajuste da Selic. Mas ainda faltam decisões efetivas.

A queda no ritmo de crescimento da indústria foi confirmada no desempenho de outros dois indicadores do setor - a massa salarial e as horas trabalhadas na produção. Apenas foram contrariados nos dados sobre o emprego no setor que, do ponto de vista da CNI, continua em crescimento vigoroso por se basear em decisões de longo prazo e por refletir o ambiente plenamente otimista do empresariado no início deste ano.

A massa salarial, cresceu timidamente 0,09% em fevereiro, em relação ao mês anterior. Trata-se de um porcentual considerado bastante baixo para fazer frente à queda de 0,77% em janeiro.

De acordo com o informe da CNI, a média dos salários reais pagos na indústria no primeiro bimestre de 2005 foi a mesma da registrada no quarto trimestre do ano passado. Em relação a fevereiro de 2004, a massa salarial apresentou crescimento de 8,07%. Mas já não atingiu os dois dígitos, como no mesmo mês de 2004, e continuará a cair nos próximos meses, por conta da forte base de comparação.

Em fevereiro, as horas trabalhadas na indústria aumentaram 0,82%, em relação ao mês anterior. Entretanto, a CNI considera que houve apenas a compensação da queda mais acentuada em janeiro, de 2,09%, na comparação com dezembro. Ainda assim, a exemplo do que ocorreu com as vendas, esse indicador está bem acima do registrado no início de 2004. Comparando o dado bimestral, houve um crescimento de 7,52% sobre o ano passado - um recorde para o período.

Castelo Branco ponderou, porém, que esse resultado se deveu à expectativa positiva dos industriais - frustrada em janeiro e fevereiro - de interrupção da trajetória de alta da Selic no início deste ano.