Título: Varig apresenta plano B a Alencar
Autor: Renata VeríssimoMariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2005, Economia, p. B14

Sem a presença do presidente da companhia, Luiz Martins, amigo de Tanure, vice reuniu-se ontem com curadores da Fundação Com a resistência do governo em relação à proposta de aquisição da Varig pelo empresário Nelson Tanure, a Fundação Ruben Berta, controladora da companhia aérea, apresentou ontem ao vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, uma solução alternativa. Ernesto Zanata, presidente do Conselho de Curadores da FRB, instância máxima de poder na fundação, esteve na reunião acompanhado de outros dois curadores, mas sem o presidente da Varig, Carlos Luiz Martins. O executivo, que até então vinha conduzindo as negociações com o governo, é amigo pessoal de Tanure e grande defensor de seu projeto para a companhia.

Ontem à tarde, após a reunião, Alencar deu os primeiros sinais de impaciência com a indefinição dos rumos da Varig. "Estão me trazendo boas notícias. Falta concretizar", disse ao Estado. Alencar não quis dar detalhes do encontro, mas deu o tom de sua disposição. "Eu não compro e eu não vendo. A negociação não é conosco." Zanata, por sua vez, limitou-se a dizer que foi "debatida uma das duas propostas". Na véspera, ele havia dito ao Estado que havia duas propostas na mesa: uma de um investidor nacional e outra de capital misto. Ele voltou a afirmar que a solução para a empresa, que acumula um passivo R$ 9,5 bilhões, incluindo contingências, será anunciada "nos próximos dias".

A proposta de Tanure, empresário de trajetória controversa que tem se especializado em adquirir empresas em crise sem arcar com seus passivos, foi apresentada ao governo na quarta-feira, durante reunião na vice-presidência. A solução Tanure foi interpretada como positiva para a Varig, mas péssima para a FRB, que arcaria com o enorme passivo. Questionado sobre a solução Tanure para a Varig, Alencar desdenhou: "Quanto a nomes eu não sei. Nem esse que você falou, nem outros."

É uma postura bastante diferente da de semanas atrás, quando Alencar aparecia pessoalmente empenhado em encontrar uma solução para a companhia. Depois de haver tentando várias alternativas, como a inclusão da empresa na Lei de Falências e o encontro de contas (uma operação em que as dívidas da empresa com a União seriam quitadas com uma indenização de quase R$ 3 bilhões que a Varig tem direito a receber por conta de perdas com planos econômicos passados), Alencar foi gradualmente tirando seu apoio à empresa, até alinhar-se com o discurso do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que defende uma solução de mercado.

Ontem, Alencar deu a senha que, de fato, não está mais interessado nas idas e vindas da Varig, abandonando inclusive a idéia do encontro de contas, que defendeu pessoalmente há duas semanas. "Isso é notícia velha", disse ele. Ele descartou a hipótese de o governo desistir de brigar na Justiça contra a indenização pedida pela Varig - o que abriria caminho para o encontro de contas.

Em meio a toda essa crise, a Varig anunciou ontem que irá decorar seus 84 aviões com a Marca Brasil, iniciativa governamental para promover o País no exterior. O primeiro avião a receber o adesivo é um MD11 que faz a rota São Paulo-Tóquio. A empresa alega ser a primeira a usar a marca e que até o fim do ano toda a frota estará com o adesivo.