Título: Febem tem o 43.º motim do ano
Autor: Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2005, Metrópole, p. C3

Internos do Complexo Raposo Tavares mantiveram quatro homens e quatro mulheres como reféns durante cerca de três horas Adolescentes no telhado, reféns, colchões queimados e facas artesanais agitadas ao vento. A cena se repetiu ontem. No 43.º motim do ano, mais de 500 internos do Complexo Raposo Tavares da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) fizeram oito reféns por cerca de três horas. Um dos funcionários foi obrigado a subir numa "tereza" (corda feita de lençóis amarrados) para chegar ao telhado, caiu e quebrou a perna e o tornozelo. Alguns menores sofreram ferimentos leves e foram tratados na enfermaria do próprio complexo. Internos da Unidade 28 disseram ao Estado que já deviam estar em liberdade e ainda são agredidos por funcionários. Esses seriam os motivos da revolta. No teto de outra unidade, uma faixa dizia: "Chega de represálias." A hipótese apontada pela Assessoria de Imprensa da instituição foi que eles protestavam contra a transferência de adolescentes para um presídio no interior do Estado, como anunciou ontem o governador Geraldo Alckmin.

Alguns funcionários afirmaram que a unidade 37 iniciou o motim, depois de um interno dizer que foi desrespeitado durante a revista feita por um vigilante. "Ele usou essa desculpa, começou a gritar e a unidade virou", afirmou uma servidora. Em seguida, as unidades 27 e 38 aderiram.

Apesar dos muros altos e da distância, os internos se comunicavam aos berros de uma unidade para a outra e combinavam o que fazer. O fim da rebelião só ocorreu depois que a polícia escoltou quatro líderes das unidades 37 e 38 até as outras duas para que negociassem a rendição. Aproximadamente às 14 horas, com o fim do tumulto, a Tropa de Choque revistou as unidades. "Na 38, foram encontrados 15 cabos de vassoura, 16 barras de ferro, 22 naifas (facas artesanais) e 2 capacetes de ciclista. Na unidade 27, havia 25 naifas", relatou o coronel Thomaz Alves Cangerana, do Comando de Policiamento de Choque da Polícia Militar.

Segundo a Febem, este ano os complexos registraram 23 tumultos, 20 rebeliões (tumultos com intervenção da Tropa de Choque) e 24 movimentos de fuga. Até agora, 881 internos fugiram e 455 foram recapturados.