Título: Família vai à escola e indisciplina cai
Autor: Renata Cafardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2005, Vida, p. A20

São Paulo, o 1.º Estado a adotar projeto da Unesco de escolas abertas no fim de semana, teve 26,4% menos problemas em sala de aula

Um projeto da Unesco de abertura das escolas nos fins de semana conseguiu reduzir a indisciplina nas salas de aula - de segunda a sexta-feira. Pesquisa realizada pelo Estado de São Paulo, o primeiro a adotar o programa em todas as escolas estaduais, mostra que a queda foi de 26,4% nas chamadas ocorrências disciplinares - como xingar o professor ou provocar brigas com colegas - na comparação entre 2003 e 2004. A ligação entre uma coisa e outra, tese defendida por educadores de todo o mundo, é que, com a abertura aos fins de semana, a comunidade passa e se sentir parte da escola. Assim, a educação como um todo é mais valorizada. E é isso que faz diminuir a indisciplina e a violência dentro e perto da escola. O levantamento mostra que caiu 19,7% também o número de delitos como roubo, pichação, incêndio criminoso, explosão de bombas nas escolas. E 20% no entorno.

"Com a diminuição das ocorrências, melhora o clima escolar. A escola prazerosa é fundamental porque os alunos aprendem mais e os professores ensinam melhor", diz o representante no Brasil da Unesco, Jorge Werthein. O órgão faz há oito anos pesquisas no País sobre juventude e violência e acabou criando o programa depois de identificar a necessidade de espaços culturais, esportivos e de lazer.

Em São Paulo, ele começou em agosto de 2003, recebeu o nome de Escola da Família e já conta com 7 milhões de participações (cada pessoa pode participar de mais de uma atividade). As escolas oferecem, nos fins de semana, cursos, jogos e brincadeiras tanto para os alunos como para a comunidade em geral. Os monitores paulistas são jovens estudantes que, pelo trabalho, têm metade de suas mensalidades em universidades pagas pelo Estado. Ontem, o governador Geraldo Alckmin anunciou uma ampliação para escolas municipais (ver texto ao lado).

EXPANSÃO

Outros Estados, como Rio, Pernambuco, Minas, Rio Grande do Sul, Bahia e Piauí, também participam do programa, chamado pela Unesco de Abrindo Espaços. O governo federal recentemente resolveu fechar uma parceria com a organização e incentivar a abertura nos fins de semana de todas as escolas públicas do País. Há um ano, o projeto começou na Argentina. Vietnã, Marrocos, Guatemala, Honduras e El Salvador também estão interessados.

Para o secretário estadual da Educação de São Paulo, Gabriel Chalita, o mérito do programa é que a comunidade "se apropria da escola", o que acaba refletindo na diminuição da violência. Em 2003, houve 8.966 registros de ocorrências disciplinares contra pessoas - ou seja, agressões a professores, alunos e outros funcionários - na Central de Atendimento da secretaria. No ano passado, foram 6.603.

O presidente do sindicato dos professores (Apeoesp), Carlos Ramiro, porém, discorda das informações. "Não é isso que temos visto nas escolas. A indisciplina tem piorado", aponta. Ele afirma concordar com a abertura das escolas, mas acredita que os monitores estudantes não estão aptos para realizar o trabalho.