Título: IPCA cai para 0,58%e ainda ameaça
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2005, Economia, p. B1

Apesar da queda, núcleos da inflação são considerados altos por economistas e a expectativa é de que o BC eleve novamente os juros RIO - O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apurado em janeiro foi de 0,58%, abaixo do resultado do mesmo mês do ano passado (0,86%) e também do de dezembro (0,76%). O IPCA é o índice no qual o governo se baseia para medir a inflação. Apesar da desaceleração, a avaliação de economistas que acompanham a evolução dos preços é que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) vai optar por um novo aumento da taxa de juros básica, a Selic, na reunião que começa amanhã e termina na quarta-feira.

Segundo esses especialistas, o IPCA, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veio dentro do esperado e os núcleos (medidas de tendência) continuam altos. No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA está em 7,41%.

"O Banco Central deu um recado bem claro, na última ata do Copom, de que continuará aumentando a Selic. O resultado do IPCA só corrobora para que continue nesse ritmo", disse o economista-chefe da LCA Consultores, Luis Suzigan.

Segundo a gerente de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, a inflação acumulada em 12 meses vem persistindo ao redor de 7% desde julho do ano passado.

Outro índice divulgado ontem, o Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), registrou aceleração: ficou em 0,90% na semana encerrada no dia 5, ante 0,88% na semana anterior.

O economista da LCA explica que os núcleos da inflação têm permanecido acima de 0,60%. "Anualizada, esta taxa gera uma inflação superior a 7%, incompatível com a meta ajustada de 5,1%", comenta o economista.

"A nosso ver, o resultado do IPCA não altera em nada a postura do Copom em relação aos juros", conclui um relatório da consultoria GRC Visão distribuído ontem, para a qual o próximo aumento da Selic deve ser de 0,5 ponto porcentual, mesma estimativa do Unibanco.

Segundo o IBGE, as principais contribuições para a inflação de janeiro foram de energia elétrica, de ônibus intermunicipais, do aço e da alimentação - com um impacto de 0,37 ponto porcentual, o equivalente a quase dois terços do IPCA de janeiro.

Segundo Eulina, o grupo educação deve pressionar a inflação em fevereiro e não há indicações de que o efeito dos preços do aço parou. Em janeiro, alguns itens afetados pelo aço foram reparos em residências (alta de 1,43%), eletrodomésticos (1,35) e carros novos (1,27%).

ATÉ 19%

O economista da LCA explica que os efeitos das altas de preços das commodities, que subiram muito em 2004, são mais defasados e demoram a aparecer para o consumidor. É esse repasse que o BC tenta combater. Por mais que seja contido, não cabe no alvo de 5,1%, a não ser com desaceleração muito brusca da economia", afirma Suzigan.

Para ele, o BC deve manter as elevações da Selic até 19%, momento em aguardaria os efeitos, que também aparecem defasados, da alta de juros na economia, caindo para 17% até o fim do ano.

Já o economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, alerta que pode estar havendo "algum tipo de pressão de demanda", levando em conta que houve alta em alguns preços de serviços, como manutenção de veículos usados e alimentação fora do domicílio.

Salomon analisa que o aperto monetário poderá levar mais tempo do que se achava necessário. Conforme levantamento do Estado, a estimativa do IPCA para janeiro era entre 0,50% e 0,62%. Para fevereiro, pesquisa do BC indica que o mercado projeta inflação de 0,65%.

Segundo o economista da FGV André Braz, a alta de preços na alimentação (de 1,20% para 1,37%) acelerou o IPC-S. Para ele, o aumento representa descontrole da inflação do varejo, mas foi mais influenciada por fatores sazonais, como a elevação dos preços de hortaliças e legumes, por conta de problemas climáticos característicos desta época do ano, como chuvas e calor intenso.