Título: Reforma ministerial empaca na disputa pela Coordenação Política
Autor: Vera Rosa e Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2005, Nacional, p. A4

Saída de Aldo é certa e PT quer trocá-lo por Dirceu, mas Planalto teme atritos com Congresso; grupo de João Paulo insiste em seu nome BRASÍLIA - Alvo de insistentes críticas do PT, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, deve mesmo deixar o cargo. Será substituído por um petista. Os favoritos são o ministro da Casa Civil, José Dirceu, que voltaria à função, e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP). De acordo com auxiliares próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele entende que o coordenador político será o negociador do governo e do PT para montar as alianças para a eleição presidencial do ano que vem, quando tentará a reeleição. Portanto, não pode ser de um partido minoritário como o PC do B de Aldo. Lula encontra dificuldades para levar Dirceu de volta à função que já foi dele. Na reunião de terça-feira, na Granja do Torto, Dirceu disse que prefere continuar onde está. Ele tem constantes atritos com a oposição e isso poderia atrapalhar as negociações no Congresso. Carrega ainda consigo a mancha de ter tido entre seus principais assessores Waldomiro Diniz, pego em flagrante quando extorquia dinheiro do empresário do jogo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Na noite de ontem, Lula também conversou com João Paulo e líderes do PMDB. Além da possibilidade de ficar com o lugar de Aldo, João Paulo é cotado para a liderança do governo na Câmara.

PAJELANÇA

Lula está angustiado com a situação de Aldo. Quer por toda lei que assuma outra pasta, mas ele não aceita. Na reunião com a cúpula do PMDB, o presidente afirmou que a reforma ministerial deve ficar para a semana que vem. Disse que a engenharia política para acomodar os aliados é difícil e reclamou da pressão dos petistas. "Estou conversando bastante com todos os partidos e consultando as pessoas. Vocês sabem que não é tarefa fácil abrir espaço no PT", desabafou. "Tem uma pajelança grande com o pessoal, não posso machucar ninguém. Daqui a pouco teremos eleição e vamos precisar de todo mundo fortalecido."

Diante do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), do senador José Sarney (AP), dos líderes do PMDB na Câmara e no Senado, José Borba (PR) e Ney Suassuna (PB), e do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), Lula afirmou que gostaria de formar parceria com o PMDB na eleição de 2006, quando disputará o segundo mandato. "Quero ver o PMDB unido na coalizão de governo e na aliança de 2006", disse o presidente.

Na noite de terça-feira, Lula, Dirceu, Mercadante e os ministros Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo) e Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) analisaram vários cenários para a reforma. Está praticamente certo que Humberto Costa (Saúde) e Amir Lando (Previdência) deixarão o governo. O senador Romero Jucá (PMDB-RR) é cotado para a Previdência. "Estou numa situação muito difícil, a toda hora o Amir Lando me liga. Quer saber o que vai acontecer", contou Suassuna.

"O governo ainda não fechou a reforma porque tudo depende do PP", diz Mercadante. O PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), reivindica as Comunicações, hoje nas mãos de Eunício Oliveira (PMDB), que pode mudar para a Integração Nacional, no lugar de Ciro Gomes.

Mas o governo não aceita ceder todos os cargos das Comunicações - incluindo a diretoria dos Correios - para o PP. "Se não for assim, não dá para negociar", rebate o líder do PP na Câmara, José Janene (PR). "Que eu saiba, o Ministério das Comunicações não existe sem os Correios."