Título: Colegiado vai ajudar Severino a dirigir a Câmara
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2005, Nacional, p. A12

Com problemas de saúde e estreito espaço político, presidente da Casa aceita dividir o posto com os colegas da Mesa Diretora

BRASÍLIA - As limitações de saúde e de natureza política obrigarão o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), a dividir a direção da Câmara, fazendo uma espécie de colegiado com os líderes e com os outros integrantes da Mesa. A primeira grande votação da Câmara - a Lei da Biossegurança - indicou isso. A sessão mais importante foi dirigida pelo vice José Thomaz Nonô (PFL-AL). Severino é do PP, um partido médio, que tem apenas 51 deputados. Na votação do primeiro turno para a eleição da Câmara, teve 124 votos. Chegou aos 300 no segundo turno e derrotou Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), o candidato oficial. Mas, no episódio da coleta de assinaturas para aumentar os salários dos parlamentares, conseguiu juntar o apoio de pouco mais de 120 deputados.

Passadas três semanas de sua surpreendente eleição, Severino já se mostra disposto a mudar seu ritmo de trabalho. Para atender aos apelos da família e de aliados políticos, ele começa a semana disposto a restringir os jantares que varam a madrugada e evitar as viagens de fim de semana. Todo o esforço visa a preservar a saúde desse impulsivo senhor de 74 anos, que tem um marca-passo no coração e sofre de diabetes, mas é obrigado a enfrentar uma maratona diária de compromissos e pressões.

Para ajudar no controle da agenda, o presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), cancelou algumas reuniões partidárias, como a de Maringá (PR), prevista para esta semana. Os amigos de Severino contam com o fim da onda de festejos e de badalações que não parou desde a posse.

A preocupação com o ritmo alucinante da rotina do deputado cresceu na semana passada, quando ele passou por momentos dramáticos - o que alterou sua pressão arterial. Foi preciso que Nonô assumisse o comando dos trabalhos da sessão de quarta-feira que aprovou a Lei de Biossegurança.

Na terça-feira, depois de jantar com os líderes partidários, ainda precisou receber o vizinho Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, que bateu à sua porta quase duas horas da madrugada para resolver o problema da liderança do PMDB na Câmara.

Mas Severino não dá o braço a torcer às pressões do filho José Maurício e da mulher, Amélia. José Maurício não larga o pai por nada. Cansado, tentava arrastá-lo para casa depois da gravação de uma entrevista para a TV, na semana passada. Já passava de meia-noite.

O filho vem pedindo aos deputados que ajudem a convencer o pai. "É a natureza dele", comentou o líder do PP, deputado José Janene (PR), que já aconselhou Severino a dar um freio nos compromissos sociais e políticos. "Você precisa diminuir a agenda", disse. "Não vou diminuir nada", respondeu o presidente da Câmara, no início da semana passada.

Para os amigos, a frustração com a falta de apoio político para aumentar os salários dos parlamentares teria causado angústia a Severino. Isso o desgastou muito. Mas acham que outros problemas virão, pois é de seu estilo pôr a cara para bater e fazer tudo às claras, mesmo tratando de causas consideradas corporativistas e conservadoras.

Os aliados de Severino lembram que seu antecessor, João Paulo Cunha (PT-SP), aumentou, na surdina, a chamada verba indenizatória dos deputados no final de seu mandato de R$ 12 mil para R$ 15 mil. Já Severino resolveu alardear o aumento e enfrentar as críticas. Na sexta-feira, ele desabafou com os deputados que o acompanharam a Recife. "Quem menos precisa deste aumento sou eu. Eu fiz a minha parte, mas os líderes não quiseram. Agora o assunto está encerrado", disse.