Título: Embratel promete competir de Norte a Sul
Autor: Ethevaldo Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2005, Economia, p. B10

Reestruturada e com investimentos superiores a US$ 500 milhões neste ano, a Embratel promete competição acirrada em todo o território nacional. Em entrevista exclusiva a esta coluna, Carlos Henrique Moreira, presidente da empresa, anunciou a nova estratégia da concessionária, que pode ser resumida em sete pontos: foco no cliente, prioridade para a voz, diversificação de serviços, utilização intensa dos satélites domésticos, agressividade total e lançamento de novos programas de teleducação e de inclusão digital. A Embratel aposta firme nos serviços de voz, que ainda representam 90% de sua receita, ante 10% da comunicação de dados, como acontece nas três grandes concessionárias de telefonia fixa: Telefônica, Telemar e Brasil Telecom. "Falar é da natureza humana", diz Moreira. Prova disso é que ainda não se detecta nenhuma explosão dos dados no mundo das comunicações.

A Embratel não parece se preocupar muito com a tecnologia de voz sobre protocolo IP (VoIP), que já alcança boa parte de seus clientes corporativos. A empresa não crê em colapso dos preços dos serviços de voz a curto ou médio prazo.

LIÇÃO

"A experiência brasileira pós-privatização", relembra Moreira, "mostra, entre outros, o efeito arrasador da competição de todas as concessionárias contra a Embratel, operadora que começou a perder seu market share no dia seguinte à privatização."

Por isso, mesmo dando grande ênfase aos serviços de voz, a Embratel busca diversificar e reconquistar a maior fatia de mercado, "mirando-se no exemplo do que aconteceu com a gigante AT&T nos Estados Unidos, ao se voltar predominantemente para o mercado de longa distância".

Conhecendo a empresa desde sua fundação, em 1965, Carlos Henrique Moreira qualifica "a Embratel como uma empresa competente que, aos 40 anos, continua atualizada em sistemas de transmissão, comutação, satélites, comunicação de dados, internet, fibras ópticas, e talvez com o melhor quadro de profissionais especializados do País, integrado por 7 mil funcionários, 4 mil dos quais são engenheiros e técnicos de alto nível".

Existem hoje no Brasil 15 milhões de antenas parabólicas apontadas para os satélites domésticos da Embratel, permitindo que cerca de 60 milhões de cidadãos possam ver TV toda noite nos pontos mais remotos do País. E, curiosamente, a empresa não faz nenhuma publicidade dessa contribuição.

No período que se seguiu à privatização, a Embratel "acabou ficando à deriva, porque sua maior acionista não tinha nem interesse nem recursos para investir na subsidiária brasileira. Mas, depois de perder mercado ininterruptamente por seis anos, a empresa, com novos focos para seus negócios e maior agilidade, começa a reverter a tendência e a recuperar market share, na faixa de 42%", comemora Moreira.

FOCO NO CLIENTE

Lançando-se no mercado com a estratégia denominada foco no cliente, a Embratel recorre às infra-estruturas disponíveis, inclusive à rede de cabos da operadora de TV a cabo Net, em 80 cidades brasileiras. A Telmex está em vias de se tornar acionista da Net. Se bem-sucedida, a experiência deve se estender a outras redes de cabo em todo o País.

Para competir mais agressivamente em São Paulo, maior mercado do País, a Embratel contratou Maurício Vergani, executivo vindo da Xerox, que será diretor da divisão Embratel Empresas, que cuida do segmento corporativo. Dispondo de novas redes, a Embratel chega agora à tão sonhada "última milha", trecho de ligação física com o cliente, do cabo da rua até sua residência, escritório ou empresa. Pode assim, atender a milhares de pequenas e médias empresas.

Os maiores concorrentes da Embratel, no entanto, são três concessionárias regionais. "Temos, portanto, que jogar regionalmente", explica Moreira. No futuro, a empresa deve adotar a estratégia denominada triple play - isto é, atuar em três áreas: telefonia local, longa distância e celular, com uma aliança muito mais completa com a Claro, operadora celular controlada pelo mesmo grupo mexicano, que tem hoje cerca de 13 milhões de assinantes. Ambas deverão utilizar o mesmo código (21) de longa distância, por exigência da Anatel.

COBRINDO O PAÍS

A Embratel não tem nenhum plano de incorporar a subsidiária StarOne, e sim de utilizar mais intensamente a comunicação via satélite para a oferta de serviços, não apenas corporativos e de alta velocidade, mas também telefonia rural e acesso à internet, a milhares de localidades remotas, espalhadas pela Amazônia, Centro-Oeste e em todo o interior do Brasil. Moreira vê um grande mercado nesse "vasto Brasil do interior" formado por pequenas empresas, sítios, fazendas, pousadas, estações ecológicas, vilarejos, postos de gasolina nas estradas. Para esses potenciais clientes, há tanto a solução dos telefones de uso público (TUPs) quanto a de serviços de banda larga, com voz, disponíveis em todo o País.

A Embratel prepara-se para participar de um programa nacional de inclusão digital e de educação à distância. Além de atender às demandas de universalização para 2005 - que prevêem a instalação de telefones públicos em todos os núcleos urbanos com mais de 300 habitantes -, a empresa quer ir além, oferecendo serviços de telefonia e acesso à internet a milhares de escolas no interior do Brasil, em cooperação com organizações não-governamentais (ONGs) que atuam nessa área.