Título: Governo também ajuda na poluição
Autor: Marcelo Onaga
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2005, Cidades/Metrópole, p. C4

Poder público usa faixas e sinalização deficiente que prejudicam a vista urbana "Nos anos 60, quem falava em preservação de meio ambiente era tachado de bicho grilo. Mas hoje vemos como o assunto é importante", diz Davi Ventura, professor de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. "Com a poluição visual, é o mesmo, com alguns anos de defasagem." Ventura diz que é preciso fazer algo agora, antes que se chegue ao limite. O excesso de mensagens, símbolos e imagens em faixas, outdoors e placas é apontado como apenas um dos fatores de degradação da paisagem urbana. "É preciso preservar as vistas. Não se pode construir prédios, mansões ou favelas sem preocupação com a paisagem da cidade."

Os críticos, no entanto, deixam claro que não são contra o uso de publicidade externa. Apenas defendem que seja feita com bom senso. "Não se pode imaginar que todas as placas sejam poluidoras. Há locais onde os anúncios compõe um cenário agradável, festivo", diz o professor de Comunicação Visual da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Sylvio de Ulhôa Cintra Filho. "É o caso da Times Square, em Nova York, e do Picadilly Circus, em Londres." Esses locais abrigam enormes luminosos de propaganda que se tornaram pontos turísticos. "O problema é quando o poder financeiro se sobrepõe a um bem público, que é a paisagem, sem nenhum respeito ou preocupação com a coletividade."

Da forma como é usada hoje, em São Paulo, a mídia exterior mais atrapalha do que ajuda. São faixas em cima de faixas que muitas vezes encobrem sinalizações e semáforos. "É preciso despoluir a cidade visualmente, para ela funcionar melhor e ser mais agradável", diz Ulhôa Cintra.

Para Ventura, o caos em que se transformou a paisagem de São Paulo pode se voltar contra seu criador. "Os empresários e comerciantes que provocam essa bagunça vão ser vítimas dela." O professor é a favor da criação de um código de paisagem urbana. "É preciso definir regras amplas para depois a legislação detalhar, como fazem o Código Florestal ou o Código Sanitário."

Francesc Petit, sócio-diretor da DPZ, defende o uso da publicidade exterior com mais parcimônia. "Os outdoors até animam a cidade. Desde que em locais apropriados, e que sejam bonitos e bem cuidados."

PROMESSAS

O publicitário reclama do mau uso de placas e faixas pelo poder público. "Isso é um dos maiores absurdos. Como o poder público pode combater o problema se não dá o exemplo?", questiona Petit, apontado por muitos como o criador da expressão "poluição visual". "Como o senhor Geraldo Alckmin pode criticar alguém se ele espalha faixas para dizer que entregou 320 viaturas de polícia?", completa. Na sexta-feira, ainda havia uma faixa das citadas na Avenida Brigadeiro Faria Lima, próximo ao Largo da Batata, do evento realizado no dia 20.

A Assessoria de Comunicação do governador respondeu: "As faixas usadas para informar a população sobre entregas de viaturas ou outros serviços devem ser retiradas após a realização dos eventos oficiais, por determinação expressa do governador. Eventualmente, pode ocorrer algum atraso ou, em caso específico, falha nesse serviço. A Secretaria de Comunicação já determinou que as faixas sejam recolhidas o mais rapidamente possível." O publicitário, no entanto, não reclama da não retirada, e sim do uso das faixas.

Já a Prefeitura garante que vai parar de usá-las. "Estamos em conversas com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) para encontrar uma alternativa. Quanto ao resto, não vamos mais usar", garantiu o secretário Walter Feldman, da Coordenação das Subprefeituras.

Petit também critica a sinalização da cidade. "As placas de São Paulo, além de escassas, são difíceis de ler. É preciso fazer uma sinalização mais decente. Não é possível ir dos Jardins à Penha só se orientando pelas placas."

O exagero incomoda os especialistas. Seja nas cores, no volume ou no tamanho. "Os comerciantes precisam entender que tamanho não é documento e que o exagero pode prejudicar", diz Ventura. "Um dos maiores responsáveis pela poluição visual do mundo é o McDonald s, com aqueles totens gigantescos. Depois que eles puseram, todos se sentiram no direito de fazer o mesmo", reclama Petit.

A maior crítica do publicitário, no entanto, diz respeito à fiação aérea. "É horrível, um símbolo de subdesenvolvimento. Você não vê fios pendurados em postes nas cidades desenvolvidas, só em países como Índia, Venezuela, Bangladesh. A iniciativa privada tem de bancar isso." Feldman alega que o custo é elevado. "Estamos começando pela publicidade exterior e isso já vai dar outra cara à cidade. A questão da fiação é importante, mas o custo a inviabiliza por enquanto."