Título: Governo libanês desafia oposição e reconduz Karami ao poder
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2005, Internacional, p. B16

Primeiro-ministro que renunciou na semana passada é encarregado de formar um novo gabinete BEIRUTE - Depois de renunciar em meio à pressão popular na semana passada, Omar Karami deve voltar ao cargo de primeiro-ministro libanês. Ignorando os gigantescos protestos promovidos pela oposição após o assassinato, no dia 14, do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, o presidente Emile Lahud - pró-Síria - atendeu à solicitação de 71 dos 128 deputados do Parlamento e incumbiu Karami de formar um novo gabinete. A volta de Karami ao poder, que só deve ser confirmada formalmente hoje, recebeu o amplo apoio dos partidos xiitas Hezbollah e grupo Amal. Essas facções políticas foram reforçadas pela manifestação da véspera, quando meio milhão de pessoas saíram às ruas de Beirute para expressar seu apoio ao papel sírio no Líbano. Segundo analistas, a manifestação enviou à sociedade libanesa sinais de que a oposição ao governo pró-Damasco talvez não corresponda à maioria no país (ler abaixo). Ontem, outra manifestação, com meio milhão de pessoas, foi realizada em Damasco.

Um membro da oposição, Samir Franjieh, qualificou a nova nomeação de Karami de ação do governo destinada a tornar inviável qualquer tentativa de diálogo. "Esse é um passo para desafiar a oposição e os sentimentos do povo", disse Franjieh.

Soldados sírios que estavam baseados no norte e nas montanhas do centro do Líbano se deslocam desde terça-feira à noite em direção ao Vale do Bekaa, no leste do país. O movimento de tropas corresponde à primeira fase da retirada gradual dos cerca de 15 mil militares sírios do Líbano, anunciada sábado pelo presidente da Síria, Bashar Assad. Algumas das bases abandonadas estavam sendo ocupadas por soldados do Exército libanês.

Na fase seguinte, cuja data ainda será acertada entre os governos sírio e libanês, os soldados se retirarão para o lado sírio da fronteira entre os dois países. Segundo Assad, isso atenderia à exigência da Resolução 1.559 do Conselho de Segurança da ONU, aprovada em setembro por iniciativa dos EUA e da França.

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse ontem que seu enviado especial Terje Roed-Larsen viajaria hoje para a região, com o objetivo de reunir-se com Assad e Lahud e tentar estabelecer uma data para a retirada.

Em Washington, o presidente americano, George W. Bush, voltou a qualificar o plano de retirada sírio de "meia medida". "Uma coisa que muitas pessoas não entendem é a pesada manipulação que as forças de inteligência sírias exercem sobre o governo", disse Bush, na Casa Branca. "Elas devem partir (com os militares) para que as eleições sejam livres." As eleições parlamentares libanesas estão programadas para abril e maio.