Título: 'Vamos atender a todos', diz diretor da Embrapa
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2005, Economia e Negócios, p. B5

BRASÍLIA - O novo diretor-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Silvio Crestana, disse ontem que não haverá descontinuidade ou ruptura dos projetos em desenvolvimento na empresa. "Há diferenças entre a agricultura familiar e o setor comercial, mas vamos trabalhar para todos os públicos", afirmou, na primeira entrevista desde que assumiu o cargo, em janeiro. Crestana procurou minimizar os comentários que circularam quando o ex-presidente Clayton Campanhola foi afastado do comando na empresa. Havia rumores de que o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, teria feito a troca para privilegiar a agricultura comercial. "A agricultura familiar tem enorme importância para o País e a agricultura empresarial também é muito importante, principalmente para a balança comercial. Precisamos atender a todos."

O novo diretor-executivo da Embrapa, José Geraldo Eugênio França, classificou como "fábula" a diferenciação entre agricultura familiar e empresarial. Ele afirmou que a estatal tem cerca de 200 projetos de pesquisas de transferência de tecnologia destinados à agricultura familiar, e todos serão mantidos. França citou um estudo do Ministério do Desenvolvimento Agrário indicando que a agricultura familiar responde por 30% do Produto Interno Bruto da Agropecuária, que soma R$ 510 bilhões. "Ela é fundamental para abastecer o mercado interno", disse.

Crestana pediu mais recursos para a estatal. O orçamento deste ano, incluindo despesas com custeio, folha de pagamento e pesquisas, é de R$ 900 milhões. O ideal, afirmou, seria R$ 1,2 bilhão. Nos Estados Unidos, o Departamento de Agricultura tem orçamento anual de US$ 1 bilhão.

Diante da falta de recursos, Crestana convocou a agricultura comercial a investir na pesquisa. "A agricultura de grande escala precisa investir em pesquisa, mesmo que não seja com a alocação direta de recursos para a Embrapa. Neste caso, a Embrapa pode fazer pesquisas complementares." Ele elogiou ainda seu antecessor, que conseguiu manter o orçamento da empresa livre dos bloqueios orçamentários impostos à maior parte da administração pública. "Foi um grande feito da gestão anterior", disse.

As pesquisas com variedades geneticamente modificadas, informou o diretor, serão mantidas. "Mas a continuidade das pesquisas com transgênicos será feita dentro dos limites estabelecidos pela lei e em consonância com a política do governo Lula", acrescentou.

Sobre a ferrugem da soja, os diretores da Embrapa informaram que "não há solução à vista", e que a oferta de sementes tolerantes ao fungo deve demorar 3 ou 4 anos. Na safra 2003/2004, o ataque da ferrugem causou prejuízo de US$ 2 bilhões à cadeia produtiva. Mas os prejuízos deverão ser menores em 2004/2005, pois medidas pontuais foram adotadas para a safra atual.