Título: Costa anuncia rigor no Rio; para PFL, é ato de desespero
Autor: Karine Rodrigues e João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2005, Nacional, p. A6

Medidas de intervenção na saúde, anunciadas pela TV, seriam gesto para não perder cargo Numa operação dividida em duas frentes - uma fala em rede nacional de televisão e uma entrevista, no Rio, cheia de frases duras e ameaçadoras - o ministro da Saúde, Humberto Costa, anunciou ontem um conjunto de medidas para pôr em prática a intervenção federal no sistema público de saúde do Rio, decretada no dia anterior. As medidas anunciadas incluem uma rápida negociação de dívidas com fornecedores para regularizar o abastecimento dos postos e hospitais em 24 horas, mutirões de atendimento e até o uso de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para buscar em outras regiões do País os equipamentos e remédios necessários à rede municipal. Enquanto o ministro Costa falava em "operação de guerra" e prometia estender a "atitude de força" a outras cidades do Rio, se necessário, em Brasília o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), acusava-o de "inventar calamidade" nos hospitais da rede municipal do Rio apenas para melhorar sua imagem diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assim, tentaria amenizar os rumores de que perderá o cargo na nova reforma ministerial.

"É o canto do cisne e o grito de desespero" de Costa, avaliou Bornhausen. O principal atingido pelas medidas do Ministério é o prefeito César Maia, pré-candidato à Presidência pelo mesmo PFL de Bornhausen. "É uma tentativa desesperada do ministro de permanecer no cargo. Quem não cumpre os contratos é o governo federal", disse Bornhausen, para quem é o ministério que não faz a reposição de funcionários nem corrige os valores pagos - uma das razões do caos que se implantou nos serviços de saúde do Rio nos últimos meses.

SUCATEAMENTO

O primeiro passo para reverter o sucateamento do serviço de saúde do Rio foi dado anteontem: a requisição dos serviços dos seis maiores hospitais da cidade, postos sob o comando de um colegiado de dirigentes de unidades federais no Rio. Outro passo foi transferir para o Estado os recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) administrados pelo município - quase R$ 800 milhões por ano. Esses recursos passam à gestão do governo de Rosinha Garotinho, do PMDB.

As seis unidades sob intervenção - Andaraí, Cardoso Fontes, da Lagoa, de Ipanema, Miguel Couto e Souza Aguiar - têm, juntas, cerca de 1.500 leitos. Seus diretores foram mantidos, mas os gestores serão os membros do colegiado. Um deles é José Gomes Temporão, diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

ÚNICA OPÇÃO

Segundo o ministro, a intervenção foi a alternativa que restou ao ministério, já que Maia recusava todas as propostas apresentadas. "Não nos restou alternativa a não ser assumir nossa responsabilidade diante da imensa insensibilidade a que assistimos, por parte do prefeito dessa cidade", afirmou Costa, batendo, de punho fechado, na mesa.

Enquanto trabalha para normalizar o atendimento, o gabinete gestor de crise, coordenado pelo atual diretor-geral do Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia (Into), Sérgio Côrtes, levantará a situação dos 28 hospitais e postos da prefeitura do Rio.

A intervenção federal aconteceu depois de três meses de negociação entre o prefeito Cesar Maia e o Ministério da Saúde. A Prefeitura reivindicava maior repasse para os hospitais que eram administrados pelo governo federal e passaram a para o controle do município depois da assinatura do contrato, em 1999.

Os ataques mútuos subiram de tom no último mês, quando Maia passou a aparecer na televisão para anunciar a sua candidatura e o ministro começou a cair em desgraça junto ao presidente.