Título: Lula tenta hoje desatar nó da reforma
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2005, Nacional, p. A4

Em reunião com seus principais auxiliares, presidente quer decidir o que fazer com a articulação política e o destino de Aldo BRASÍLIA - Na reunião com os seus principais auxiliares, marcada para hoje às 9 horas, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai enfim tentar definir sua nova equipe de governo, desatando o principal nó da reforma ministerial: o que fazer com a coordenação política, comandada pelo ministro Aldo Rebelo. Lula quer mantê-lo no Executivo e analisa também a proposta de deixar a coordenação política em uma subsecretaria, vinculada à Casa Civil, como era antes. Essa decisão está condicionada ao modelo que o presidente pretende implantar para reorganizar o esquema de sustentação política do governo no Congresso.

A reunião de coordenação dará prosseguimento às conversas de ontem à noite, na Granja do Torto, quando Lula convocou os ministros da Casa Civil, José Dirceu, da Fazenda, Antonio Palocci, e da Secretaria de Comunicação, Luiz Gushiken, para uma prévia. A maior parte dos ministros estava ontem à noite em Brasília aguardando um chamado.

O próprio Lula brincou nos últimos dias dizendo que ia ligar para cada um, no fim de semana, só para saber se estavam na capital. Como os presentes na reunião de ontem à noite eram pessoas do núcleo do PT no governo, o objetivo era discutir o espaço do partido na Esplanada, tendo em vista não só as questões imediatas, como as alianças possíveis para 2006.

Se prevalecer a idéia de extinguir o status de ministro da Coordenação Política, cuja função passaria a um operador político, João Paulo Cunha (PT-SP) poderia assumir a liderança do governo na Câmara, no lugar de Professor Luizinho (PT-SP). Não agrada a Aldo, por sua vez, retornar à liderança, cargo que teve antes de comandar a Coordenação Política.

Segundo parlamentares do PT, se ocupar um ministério, João Paulo terá de desistir de concorrer ao governo de São Paulo em 2006, deixando o caminho livre para o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

FARC

Outro assunto que estará na agenda de Lula com seus auxiliares, na reunião de hoje, é a denúncia de que o PT teria recebido dinheiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) nas eleições de 2002, publicada na edição desta semana da revista Veja.

O assunto foi fruto de conversas durante o fim de semana, mas tanto o presidente quanto Dirceu estão convencidos de que as denúncias são "requentadas" e não merecem maiores considerações do governo. Uma manifestação do Planalto sobre o caso dependerá das repercussões da notícia na imprensa e no Congresso.

Enquanto isso, o clima de expectativa em torno da reforma ministerial deve crescer, até porque o próprio Lula indicou que anunciaria as mudanças nesta semana. Os políticos que participam das negociações afirmam, contudo, que o presidente ainda está mexendo nas peças do xadrez.

Especialmente preocupado com a situação de Aldo, Lula teve longas conversas com o ministro nos últimos dias, no Palácio do Planalto. Mesmo sofrendo pressões do PT, que deseja seu posto, o ministro continuou cumprindo sua agenda e, ontem cedo, estava em Campo Maior, no Piauí, representando o presidente num evento oficial. Segundo interlocutores do Planalto, Aldo Rebelo poderia ser deslocado para os Ministérios da Trabalho ou Defesa.