Título: PS português deve voltar ao poder
Autor: Jair Rattner
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2005, Internacional, p. A22

Portugueses vão hoje às urnas em eleições parlamentares antecipadas e devem eleger maioria socialista

LISBOA Os socialistas são favoritos para vencer as eleições legislativas de hoje em Portugal. Segundo as sondagens, a vitória do PS sobre o Partido Social-Democrata, de centro-direita, deverá ser arrasadora: em todas as pesquisas, as intenções de voto do PS ficam entre 44 e 46%, enquanto o PSD, atualmente no governo, deverá receber entre 27 e 31% dos votos. O sistema eleitoral português favorece a obtenção de maiorias. Normalmente, bastam 44,5% para se ter maioria no Parlamento, o que permite governar sem ter de fazer alianças ou concessões.

Segundo as sondagens, mais três agremiações teriam chance de eleger deputados, todas com votação entre os 6% e 8%: o Centro Democrático Social-Partido Popular, de direita, a Coligação Democrática Unitária, encabeçada pelo Partido Comunista Português, e o Bloco de Esquerda, que agrupa trotsquistas, maoístas, ex-comunistas e alguns independentes. A disputa é para ver quem será a terceira força no Parlamento.

As eleições vão marcar o início de um ano em que poderá ocorrer uma renovação da classe política portuguesa. Além das legislativas, em setembro será a vez das eleições municipais e, em janeiro de 2006, ocorrerá a escolha do novo presidente - o atual, o socialista Jorge Sampaio, não poderá disputar porque já foi eleito duas vezes.

As eleições de hoje são antecipadas: o presidente português decidiu dissolver o Parlamento em dezembro, quatro meses depois que Pedro Santana Lopes assumiu o governo em coligação com o CDS-PP.

A justificativa para as eleições é a de que o governo estava desnorteado, propondo medidas num dia que eram abandonadas no dia seguinte. Segundo os partidos no poder, Sampaio aproveitou-se da queda de popularidade do governo, por causa da crise econômica, para levar o PS de novo ao poder.

Para o analista político Carlos Magno, as eleições vão julgar o atual primeiro-ministro: "Esta campanha é, antes de tudo, uma espécie de plebiscito para o primeiro-ministro. Mais do que decidir qual é o partido que ganha e qual o que perde, os portugueses são chamados neste momento a pronunciar-se se querem ou não Santana Lopes."

Um dos exemplos que apresentam da falta de rumo de Santana Lopes é o caso da refinaria de petróleo de Matosinhos. Após um incêndio que deixou várias vítimas, ele anunciou que ia fechá-la. No dia seguinte, constatou que não tinha poderes para isso.

As eleições ocorrem num momento em que o país enfrenta o maior desemprego dos últimos oito anos, atingindo a marca dos 7,1%. Os social-democratas atribuem a culpa ao antigo governo socialista, que deixou o poder há três anos.

Contrariando uma tradição em Portugal, a campanha foi marcada por ataques pessoais, incluindo boatos sobre a vida privada dos candidatos. Os rumores eram de que o líder socialista José Sócrates teria um caso com um ator famoso, enquanto do outro lado corria que o primeiro-ministro seria consumidor de cocaína.