Título: Sindicalistas vaiam Berzoini: 'pelego,vendido'
Autor: Denise Chrispim Marin, Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Nacional, p. A10

O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, enfrentou ontem um difícil teste da tramitação, na Câmara, do projeto de reforma sindical montado pelo governo Lula. Sua tentativa de expor os principais pontos da proposta de emenda constitucional mal foi ouvida pelos parlamentares que acompanhavam a audiência pública na Comissão do Trabalho. Entre vaias, palavras de ordem e gritos de "pelego!", "mentira!" e "vendido!", a platéia de sindicalistas contrários às mudanças tumultuou a sessão, que só não foi suspensa por interferência de alguns deputados. Nas 4 horas, Berzoini acabou abandonado até pelas centrais que apóiam a reforma - a Força Sindical e a parcela majoritária da Central Única dos Trabalhadores.

O próximo round para Berzoini será a audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o primeiro passo da tramitação da proposta. "Nenhuma PEC que entra no Congresso sai do mesmo jeito", insistiu o ministro. "Assumimos o compromisso de, havendo qualquer alteração, retomarmos os debates do fórum tripartite", completou, ao referir-se ao Fórum Nacional do Trabalho no qual o projeto foi debatido entre representantes dos sindicatos, dos empresários e do governo.

Quando Berzoini chegou, a platéia de militantes sindicais da CGT, do PSTU e do PC do B ocupava boa parte da sala e, em pé, gritava refrões como "Berzoini, seu pelegão, essa reforma é coisa de patrão". Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força, se manteve quieto, e saiu mais cedo. "A manifestação foi inexpressiva. Assim que a discussão esquentar, na CCJ, vamos estar juntos do ministro." Luiz Marinho, presidente da CUT, nem foi.

O diretor da Federação Nacional dos Frentistas, Luiz Tenório de Lima, de 81 anos, chegou a avançar descontrolado pela lateral gritando que Berzoini era mentiroso, mas foi contido pela segurança e passou mal. "Não aceitamos essa reforma, que foi encomendada pelo FMI", disse Lima.

"Esse comportamento truculento (dos sindicalistas) não é novidade, nem esperava que fosse diferente", afirmou o ministro após a sessão. "São minoria no movimento sindical que existe de fato, não chegando a representar 15% dos trabalhadores."