Título: Iraquianos abrem Parlamento, mas não formam novo governo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Internacional, p. A13

Sem que xiitas e curdos conseguissem completar um acordo para formar o novo governo, os 275 deputados iraquianos eleitos em 30 de janeiro realizaram ontem a sessão inaugural da nova Assembléia Nacional do país. A instalação do Parlamento - considerado o primeiro democraticamente eleito no país - com um discurso do presidente Ghazi al-Yawer se deu em meio a um forte esquema de segurança e de ataques de grupos rebeldes, que chegaram a atingir com vários foguetes um edifício abandonado perto de onde se realizava a sessão, mas sem causar vítimas. A sede do Parlamento fica na Zona Verde, a área superfortificada no centro de Bagdá onde se localizam a embaixada e o comando militar dos EUA e os edifícios do governo interino iraquiano. Diante do impasse que impede a Aliança Unida Iraquiana (AUI, xiita) e os curdos de formarem um novo governo - que obtiveram, respectivamente, 140 e 75 das 275 cadeiras da assembléia -, os parlamentares se limitaram a prestar juramento para o cargo e escolher o deputado mais idoso, o sunita Dari Fayad, para a presidência interina do Parlamento.

"Este é um dia histórico. Uma mudança total na vida política do Iraque. O dia em que deixamos a ditadura e partimos na direção de um futuro democrático", disse o principal candidato ao cargo de primeiro-ministro, o xiita Ibrahim al-Jaafari. "Nos próximos dias, estaremos prontos para anunciar o novo governo", acrescentou. O ministro interino das Finanças, Adel Abdel Mahdi, afirmou que o esperado acordo deve ser fechado até a semana que vem.

A AUI e a coalizão curda já têm um acordo de princípios para a divisão do poder. Mas ainda mantêm divergências sobre o status da cidade de Kirkuk, cuja autonomia é reivindicada pelos curdos, e o destino da milícia armada curda Peshmerga, que os xiitas querem que seja integrada às novas Forças Armadas do país.

Além de xiitas e curdos, o acordo para a formação do novo governo deve incluir a participação dos sunitas - impedidos pela violência rebelde de tomar parte das eleições de janeiro. A assembléia elegerá, por maioria de dois terços, um presidente, dois vice-presidentes e o Conselho da Presidência. Esses, por sua vez, terão a tarefa de escolher o primeiro-ministro. Os parlamentares também deverão redigir a Constituição definitiva do país até 15 de agosto, que será submetida a referendo popular, e estabelecer a legislação para eleições marcadas para 31 de dezembro, quando será escolhido o governo permanente.

Em Washington, a Câmara dos Representantes aprovou ontem por 388 votos a favor e 42 contra o pedido do presidente americano, George W. Bush, de destinar US$ 81 bilhões para as operações militares no Iraque e no Afeganistão. Uma pesquisa do jornal The Washington Post e da rede de TV ABC News divulgada ontem indica que 56% dos americanos acreditam que as eleições levarão o Iraque a um governo estável. Mas 57% desaprovam a forma como Bush administra a guerra e 70% consideram inaceitável o número de baixas americanas no Iraque.

Uma bomba colocada à margem de uma estrada ao sul de Bagdá matou um soldado americano, informou ontem o comando militar, elevando para 1.516 o número de militares dos EUA mortos no Iraque desde o começo da guerra.