Título: Palocci ganha outra e põe aliado no Planejamento
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, venceu a queda-de-braço com o chefe da Casa Civil, José Dirceu, e conseguiu emplacar no Ministério do Planejamento o deputado Paulo Bernardo (PT-PR). Fiel aliado de Palocci, Bernardo comprou briga com o Congresso ao defender publicamente a tesourada de R$ 15,9 bilhões no orçamento da União e o fim das emendas de bancada, para que a proposta deixe de ser peça de ficção. Dirceu preferia para o cargo o deputado Jorge Bittar (PT-RJ), que contava com o lobby do PT do Rio, sem representante no primeiro escalão desde a saída de Carlos Lessa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Se não me acharem preparado para o cargo, podem chamar outro", brincou Bernardo, ao receber o cargo de Nelson Machado. "Está aqui meu amigo Jorge Bittar que não me deixa mentir, mas quero dizer que estou preparado." Rindo muito, Bernardo afirmou que o chefe da Casa Civil "também é vitorioso".

Palocci não compareceu à solenidade de transmissão de cargo, mas Dirceu estava lá. Para o público externo Bernardo esclareceu que sua nomeação não significa mudança de rumo na política econômica. Ao contrário: da ala moderada do PT, ele sempre foi um dos defensores das idéias do ministro da Fazenda, como aumento do superávit primário e autonomia do BC. Foi um dos primeiros a apoiar Palocci no início do governo, quando Dirceu começou a criticar o caminho adotado pela equipe econômica para conter a inflação.

Encarregado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de consultar os partidos para a reforma ministerial, Dirceu também perdeu ao não conseguir a nomeação de petista para a Coordenação Política. Depois de quase um ano de intenso bombardeio por parte do PT, Lula manteve o ministro Aldo Rebelo, do PC do B.

"Deixe as fofocas e intrigas de lado e continue trabalhando normalmente", recomendou o presidente a Aldo, na manhã de ontem. "Vamos tocar o barco." A cúpula do PT intensificou a pressão para que Dirceu reassumisse a articulação política. Ele recusou.

O chefe da Casa Civil queria ver na cadeira de Aldo o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Ao perceber as dificuldades para sua indicação - já que João Paulo não se mostrava disposto a colaborar com o governo e fazia várias exigências -, Dirceu conversou com Lula sobre a senadora Roseana Sarney (PFL-MA). É bem possível que ela ainda entre no governo, mas por enquanto a mudança está congelada.

Não é a primeira vez que Lula desautoriza as negociações em curso para a montagem do ministério. Logo depois da eleição, em 2002, Dirceu ofereceu ao presidente do PMDB, Michel Temer, duas vagas: Minas e Energia e Comunicações. Acertou tudo em nome do presidente eleito, mas, na véspera do anúncio, Lula desfez o arranjo. Conclusão: o PMDB não entrou no primeiro ministério. Há quem diga no meio político que todos os problemas do governo de coalizão começaram aí.