Título: Paraguai quer saída de brasileiros
Autor: Sônia Inês Vendrame
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Metrópole, p. C8

FOZ DO IGUAÇU - O governo do Paraguai anunciou ontem que 2 mil brasileiros poderão ser expulsos do país por trabalhar irregularmente no comércio de Ciudad del Este. Ontem, os brasileiros foram obrigados a apresentar documentos para os agentes de imigração. A contagem dos ilegais começou nas lojas do maior shopping aberto da América Latina e vai atingir os chamados brasiguaios - agricultores que há mais de 20 anos cultivam soja no país. O Ministério das Relações Exteriores do Paraguai estima que 300 mil brasiguaios trabalham no país - desses, 200 mil teriam entrado clandestinamente. Só nas lojas da cidade vizinha a Foz do Iguaçu (PR), cerca de 5 mil pessoas estão empregadas. Elas atravessam a fronteira todos os dias para atender aos sacoleiros. A operação feita por 20 agentes do Ministério das Relações Exteriores, vindos especialmente de Assunção para a missão, se concentraram na aduana paraguaia, entrada do país. Quem estava a pé, de moto ou carro foi parado. Quem estava irregular tem até o dia 31 para apresentar os documentos, do contrário será expulso ou deportado.

Nas lojas, onde a maioria dos atendentes é brasileira sem registro, muitos se esconderam quando perceberam a chegada dos agentes. Eles faziam a contagem dos funcionários, notificando para que a empresa faça a apresentação dos documentos até o último dia do mês. Quem não comprovar residência e registro de trabalho será expulso ou deportado.

Na tentativa de evitar constrangimento, a Câmara de Comércio de Alto Paraná enviou circular avisando da necessidade de legalizar os trabalhadores.

O trabalho de contagem dos brasileiros começou a ganhar expressão após as constantes operações de combate ao contrabando. O chefe de fiscalização de Migração do Departamento de Alto Paraná, Wilmar Monzon, negou que o arrocho esteja relacionado com a fiscalização desencadeada pela Receita Federal do Brasil. O governador de Alto Paraná, Gustavo Cardoso, disse que os brasileiros irregulares terão de deixar seus empregos. "Por isso, na próxima semana, começarão a ser expulsos pelo departamento de imigração", disse.

O Itamaraty informou em Brasília que está averiguando o assunto e que a medida não tem aplicação imediata, o que significa que há margem de tempo para o governo brasileiro se informar sobre a exata dimensão da decisão e, eventualmente, demover o governo paraguaio de aplicá-la.