Título: Radicais dizem que metamorfose é o fim
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2005, Nacional, p. A6

Inconformados, eles prometem disputar rumos do PT e defender história de 25 anos

Uma metamorfose que pode levar ao fim. Foi com esse comentário que integrantes de facções de esquerda do PT reagiram ao saber que o campo majoritário petista quer incorporar pressupostos da macroeconomia no programa do partido. Os radicais também preparam suas teses para o embate e prometem disputar os rumos do partido até o último minuto. Atualmente controlam apenas 33% dos cargos de direção. "Afirmar que ajuste fiscal e superávit primário são valores universais e dogmas absolutos é contradizer o que sempre pregamos", diz o deputado Chico Alencar (PT-RJ), integrante do novo bloco parlamentar de esquerda. "Sempre fomos contra o caminho único."

Alencar sustenta que o governo Lula navega "num mar de contradições" por manter uma política econômica 'basicamente igual" à da gestão de Fernando Henrique Cardoso sem conseguir construir marcas onde o PT sempre foi forte, como na educação e na saúde.

"Pior de tudo é que, do jeito que falam, parece que nós, os chamados radicais, pregamos a inflação e o desequilíbrio fiscal, quando o que defendemos são alternativas para que o nosso governo não perca de vista a distribuição de renda", lamenta o deputado.

Da ala moderada, o prefeito de Aracaju (SE), Marcelo Déda, diz entender a angústia de seus companheiros. Mais: teme que o debate sobre o ideário petista seja "pressionado" pelo ano pré-eleitoral. "Na revisão do programa do PT precisamos deixar claro que a política econômica não se justifica por si só. Um partido como o PT não pode pensar que cumpriu o seu papel só porque ajeitou a economia, mas também não pode cair na ilusão de que é possível promover a transformação social ignorando o equilíbrio fiscal", argumenta.

Para Déda, o problema não é a política econômica ter impressões digitais do PSDB, desde que consiga apontar "um rumo consistente e duradouro".

As facções de esquerda, porém, acham que a "herança maldita" recebida do tucanato impõe "rédea curta" ao País. No documento intitulado Carta aos Petistas, os signatários sustentam que o atual modelo impede o crescimento virtuoso do mercado interno, bloqueia a distribuição de renda e barra o aumento real do salário mínimo e das aposentadorias.

"Nunca tivemos a ilusão de que mudar o modelo econômico e social (...) seria algo rápido e simples. Mas sem sinais de mudanças e se transformarmos o vício em virtude estaremos dando argumentos a quem diz que não há alternativa ao neoliberalismo", diz um dos trechos da carta.

Dirigente da Articulação de Esquerda, Valter Pomar nota que a insatisfação dos radicais não se limita à política econômica: "A nossa crítica é à posição do campo majoritário, segundo a qual mais vale um mau acordo do que uma boa briga." Vice-presidente do PT, Pomar é um dos cotados para disputar o comando do partido com Genoino. "Vamos travar a disputa de rumos em defesa do programa que o PT produziu em seus 25 anos de história", avisa.