Título: FMI vê dívida do País frágil e elevada
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2005, Economia, p. B1

Para diretora do Fundo, Brasil deve fazer mais economia para pagar juros e com isso reduzir o risco e elevar menos a taxa Selic A diretora do Departamento de Assuntos Fiscais do Fundo Monetário Internacional (FMI), Teresa Ter-Minassian, afirmou ontem, em Brasília, que a dívida pública brasileira ainda é elevada e vulnerável, apesar dos avanços obtidos no último ano. "O Brasil ainda tem uma dívida bastante elevada, com uma composição bastante frágil", disse à imprensa, durante o intervalo do seminário internacional sobre "Melhoria de Qualidade dos Investimentos Públicos e Parcerias Público-Privadas". Ao que tudo indica, a visão positiva do FMI sobre o Brasil aponta mais para o futuro. Pelo menos é o que se deduz do que disse Charles Collyns, subdiretor do Departamento da América Latina e chefe das missões do Fundo que estiveram no País para monitorar o último acordo com o governo brasileiro. Para ele, o Brasil se transformará em peso pesado da economia nos próximos 5 a 10 anos, com crescimento anual sustentado de 3% a 4% (ver mais na página 3).

Ter-Minassian, porém, parece mais preocupada com o presente. E, apesar de o Brasil não estar mais sob a tutela do FMI, ela sugeriu que o País talvez precise ajustar seu superávit primário (economia de receitas para pagar juros) até o fim do ano, dependendo da evolução da arrecadação e das despesas. A diretora do FMI acredita que fazer mais economia para pagar juros pode baixar a taxa de risco sobre títulos (spread), pois o mercado verá melhoras nas condições de pagamento da dívida brasileira. Com isso, a taxa Selic poderia subir menos como resposta à alta dos juros americanos e ainda assim manter a atratividade dos papéis brasileiros.

Ela acrescentou que o País também deveria enfrentar o problema da "rigidez orçamentária" (o alto porcentual da arrecadação gasto de forma automática em áreas como saúde e educação) e dos crescentes gastos com a seguridade social. Com isso, voltou a bater na tecla de que o Brasil precisa avançar nas reformas econômicas.

Para Ter-Minassian, o governo foi bem-sucedido em reduzir a fatia da dívida atrelada ao dólar, mas "ainda tem a vulnerabilidade às mudanças na taxa de juros (Selic)", além de um período médio de vencimento dos títulos públicos "bastante curto".

Segundo o Tesouro, o prazo da dívida mobiliária caiu de 32,43 meses em janeiro de 2003 para 27,76 meses em março de 2005. Prazos longos indicam mais confiança do mercado. No mesmo período, o porcentual da dívida indexada ao câmbio caiu de 36,37% para 4,94%, enquanto os títulos remunerados pela Selic passaram de 47,23% para 56,98%.

A estratégia de trocar títulos corrigidos pelo câmbio por títulos prefixados ou atrelados à Selic coincide com uma fase de apreciação do real e de altas seguidas dos juros para tentar conter a inflação. Esse cenário já levou o governo a projetar um semicongelamento da relação dívida/PIB acima de 51% até o fim de 2006.