Título: Ata e cenário externo ditam negócios
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2005, Economia, p. B6

Divulgação do documento do Copom com as justificativas da elevação do juro básico será o principal evento doméstico da semana A divulgação, na quinta-feira, da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, é o principal evento da semana para o mercado financeiro. O interesse pela ata ficou aguçado pela surpreendente elevação de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, de 19,25% ao ano para 19,50%, quando a maioria dos analistas e investidores já contava com o fim do ciclo de alta iniciado em setembro. Para Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management (MAM), a ata pode ajudar a esclarecer a principal dúvida deixada pelo reajuste de 0,25 ponto porcentual. A questão, diz ele, está em saber se essa alta sugere o término da temporada de ajuste dos juros ou apenas uma mudança no ritmo em relação ao 0,50 ponto porcentual definido sistemática e continuamente de outubro a março.

"Se for só indicação de uma mudança de ritmo, novas altas poderão ocorrer nas próximas reuniões do Copom." Povoa lembra que a atual rodada de aperto na política monetária teve início há oito meses com uma elevação de 0,25 ponto porcentual na taxa Selic.

A analista de Investimentos da SLW Corretora, Kelly Trentin, diz que o mercado vai trabalhar em compasso de espera, movido pela expectativa com a ata do Copom e também com os indicadores de inflação. Dentre os principais, está o IPCA-15 de abril, que será conhecido na quarta-feira, e a inflação do mês calculado pelo IGP-M, que sai na quinta-feira.

A avaliação de Kelly é que a decisão do Copom de elevar os juros levou em conta mais as incertezas externas que o cenário doméstico, em que aos sinais de perda de fôlego da economia se soma agora a revisão do Produto Interno Bruto (PIB) para baixo. "Como a inflação futura também dá sinais de controle, do ponto de vista interno não haveria motivo para manter os juros em alta." O preço elevado do barril de petróleo e as dúvidas sobre a economia americana, segundo ela, foram fatores determinantes da decisão do Copom.

O cenário externo carregado de dados importantes deve ditar também o rumo do mercado doméstico. "Diante das incertezas externas, principalmente, os investidores devem continuar realizando lucros no curto prazo", prevê Kelly. No caso da bolsa, isso significa que os investidores tendem a vender ações tão logo acumulem ganho em alguns pregões de alta.

O economista Marcelo Castello Branco, da Modal Asset Management (MAM), comenta que alguns indicadores que serão divulgados esta semana nos EUA poderão dar uma idéia mais clara de como anda a economia americana. Amanhã será divulgado o indicador de confiança do consumidor; na quarta-feira, os dados sobre a encomenda de bens duráveis às indústrias; na quinta, a primeira prévia do PIB americano do primeiro trimestre; e, na sexta-feira, o PCE, um indicador de inflação ao consumidor a que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) dá grande destaque para calibrar as taxas de juro de curto prazo. "São dados que vão apontar quem está com a avaliação correta, se a corrente que acredita que a economia americana está desaquecendo ou o Fed, que entende que a economia está em ritmo bom."