Título: Convento lembra o colega que virou papável
Autor: Expedito Filho, Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2005, Especial, p. H4

BELO HORIZONTE-O cardeal e arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, de 70 anos, apontado como um dos possíveis sucessores de João Paulo II, foi ordenado padre na década de 50, em Divinópolis, no centro-oeste de Minas. Reserva, discrição e aplicação aos estudos eram os principais traços da personalidade do cardeal gaúcho, conforme recordam seus contemporâneos da Faculdade de Teologia do Convento Santo Antônio. "Ele era uma pessoa discreta, que não fazia acontecer, mas participava de tudo. Era muito cônscio de suas obrigações e deveres, um aluno aplicado", lembra o frade Ronaldo Zwinkels, de 76 anos, que foi colega de d. Cláudio.

Segundo o religioso, nascido na Holanda, o cardeal era um estudante que "observava tudo com naturalidade, não com fanatismo". "Tem jovem que precisa ser domesticado, mas ele já tinha seus princípios, suas normas, muito seguro do que queria", lembra-se.

Natural do Rio Grande do Sul, d. Cláudio estudou em Divinópolis de 1954 a 1958. Na época, Minas e o Estado do Sul pertenciam à Província Franciscana de Santa Cruz e a cidade era uma das opções para os estudantes gaúchos que queriam se tornar padres.

Segundo o frade Zwinkels, nesse período, d. Aloísio Lorscheider era professor no convento e manteve uma relação de proximidade com o atual arcebispo de São Paulo. "Esse relacionamento foi mágico para a carreira de d. Cláudio", observou. "Lorscheider era nosso mestre e d. Cláudio o sucedeu como arcebispo de Fortaleza".

Os religiosos lembram que o Convento Santo Antônio possuía na época três núcleos - um gaúcho, um mineiro e outro holandês.

VIOLINO

O frade Bernardino Leers, de 85 anos, professor de Teologia Moral da turma, confessa que recorda apenas vagamente dos primeiros passos de d. Cláudio na vida eclesiástica. "Não tenho nenhuma lembrança especial. O único destaque de que me lembro é que ele tocava violino numa pequena orquestra que tínhamos aqui na nossa casa", disse o religioso, também nascido na Holanda.

"Certamente ele foi um bom aluno, discreto e dedicado, mas dizer que ele foi um aluno excelente, eu não tenho memória." Sobre a possibilidade de o cardeal brasileiro substituir João Paulo II, apesar da torcida, os dois religiosos do convento possuem opiniões diferentes.

"A possibilidade existe, mas eu tenho minhas dúvidas. Não sei e duvido que ele seja tão conhecido entre os cardeais", arrisca frade Bernardino. Zwinkels, por sua vez, salienta que d. Cláudio possui o perfil que se espera do novo papa e a vantagem de representar a América Latina, além do "vasto relacionamento" no Vaticano. O frade destacou que o cardeal em 2002 pregou o retiro espiritual da Quaresma para o papa e não pode ser considerado um conservador por excelência.

"Conservador é uma palavra ambivalente. Você pode ser progressista nas questões sociais e conservador nas questões espirituais. Acredito que d. Cláudio tenha esse perfil."