Título: FHC diz a tucanos que aceita ser opção para disputar Presidência
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2005, Nacional, p. A3

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse à mais alta cúpula do PSDB que seu nome pode ser incluído nas opções do partido para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial do ano que vem. "Estamos numa situação privilegiada, pois temos ótimos candidatos a candidato e um deles é Fernando Henrique", disse o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG). O encontro com os tucanos ocorreu na casa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) quarta-feira à noite, horas antes de o ex-presidente juntar-se ao também ex José Sarney (PMDB-AP) e a Lula e seguir viagem para Roma, onde foram assistir aos funerais do papa João Paulo II. Além de Azeredo, participaram do jantar o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM), e o secretário da Casa Civil do governo de São Paulo, Arnaldo Madeira.

Os outros nomes tidos como fortes para a sucessão presidencial entre os tucanos são os dos governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de Minas, Aécio Neves, do senador Tasso Jereissati e do prefeito de São Paulo, José Serra. De todos, no entanto, Serra é tido como o menos provável, porque tomou posse em janeiro. Se por acaso decidir concorrer, terá de deixar a Prefeitura em abril, com apenas um ano e três meses no exercício do cargo.

No encontro, Fernando Henrique e seus companheiros tucanos fizeram uma análise da situação política e econômica do País. Concluíram que o governo do PT errou muito mais do que esperavam. "Para nós, do PSDB, a situação política hoje é melhor do que poderíamos desejar. Acho que o Lula erra demais", disse Fernando Henrique, segundo um dos participantes do jantar. A reunião foi curta. Começou por volta das 23 horas e seguiu até meia-noite e meia.

"O presidente está muito bem de saúde, muito animado, muito bem de cabeça. É uma opção maravilhosa para disputar a eleição", disse Azeredo.

Mas Fernando Henrique fez uma advertência aos presentes. Acha que o PSDB não deve tratar de nome de candidatos por enquanto. Deve esperar que o processo se afunile para evitar qualquer problema que venha a provocar desgaste interno no partido. "Temos de dominar a ansiedade de lançar candidato. Há tempo de sobra para que o barco navegue", disse.

Quando o assunto deixou de ser a sucessão de Lula, os comensais analisaram a situação do governo. Arthur Virgílio lembrou que faz uma oposição muito forte, mas mantém o diálogo, por exemplo, com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

Fernando Henrique aproveitou então para fazer uma análise sobre o que considera neste momento o ponto mais fraco do governo. "A gastança do governo, ou a farra do boi, como dizem os jornais, pode ser fatal para o governo de Lula." Em seguida, segundo um dos participantes, le lembrou que o PT carregará para sempre a marca do aparelhamento do Estado. "Isso pega muito mal."

Por fim, o ex-presidente e os integrantes da cúpula tucana analisaram a recente reforma ministerial frustrada, em que somente dois ministros foram nomeados. Assim mesmo, um já está totalmente desgastado, porque as suspeitas de envolvimento de Romero Jucá em irregularidades persistem. Para Fernando Henrique, é um problema sério, porque a Previdência é a área mais sensível do governo.