Título: Economistas acham aperto fiscal medida mais eficiente
Autor: Vera Rosa Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Nacional, p. A4

Uma maneira muito mais eficiente de combater a inflação é a redução dos gastos do governo, segundo economistas. Se o governo cortar despesas e aumentar seu superávit primário - a meta hoje é de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) -, haverá menos demanda por bens e serviços da economia. Ou seja: o governo, que é um importante consumidor, estaria reduzindo sua demanda, o que, por sua vez, iria desacelerar a atividade da economia e conter a inflação. "Se houvesse uma redução dos gastos do governo, não seria necessário ter juros tão altos", diz Jankiel Santos, do banco ABN Amro. Santos, como muitos economistas, defende uma política fiscal mais apertada e uma política monetária mais frouxa - um superávit primário maior e juros menores. "Combater a inflação com aperto fiscal tem menos efeitos colaterais do que usar juros altos", diz. Uma das desvantagens de usar os juros para controlar a inflação é o efeito dessa política no custo da dívida - cada vez que o BC eleva a Selic, a dívida pública fica mais cara.

Além disso, a política de juros atinge em cheio os empresários, que podem adiar seus investimentos e aplicar seu capital no mercado financeiro, mais rentável. "Hoje, o governo está sacrificando o setor privado para controlar a inflação. Se usasse a política fiscal, o sacrifício seria do setor público", diz Santos.

O problema é que aumentar o superávit primário é uma medida politicamente difícil de implementar. "Já é difícil com um superávit de 4,25%, imagine a esquerda do PT diante de uma proposta de aumento do superávit?", pergunta Santos. Além disso, uma redução das despesas do governo não é um instrumento tão preciso para conter a inflação. Não se trata de uma medida ágil e é difícil precisar o tempo que demora para surtir efeito.