Título: A primeira imagem de um planeta extra-solar
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Vida&, p. A31

Astrônomos confirmaram que um objeto fotografado por eles em 2004 é, de fato, um planeta de outro sistema A corrida científica sobre quem seria o primeiro a fotografar um planeta fora do sistema solar parece ter chegado ao fim. De acordo com um grupo de astrônomos americanos e europeus, o objeto misterioso fotografado por eles em abril de 2004 é, de fato, um planeta extra-solar. As primeiras imagens foram feitas com o Very Large Telescope (VLT), no Chile, seguidas por uma investigação com o telescópio espacial Hubble. Mas só agora, um ano depois, é que foi possível confirmar a identidade do objeto, a partir de novas observações com o VLT. "Nossas novas imagens mostram de forma convincente que é realmente um planeta; o primeiro planeta já observado fora do nosso sistema solar", disse o astrônomo Gael Chauvin, líder da equipe e pesquisador do European Southern Observatory (ESO), no Chile. Mais de 120 planetas extra-solares já foram detectados nos últimos dez anos, mas todos por métodos indiretos, baseados em pequenas variações de luminosidade ou pela influência gravitacional dos planetas sobre suas estrelas. Ou seja: os cientistas sabem que o planeta está lá, mas não conseguem enxergá-lo.

Nesse caso, os pesquisadores obtiveram uma imagem direta do planeta em volta de uma estrela do tipo anã marrom, a 200 anos-luz da Terra. De início, não foi possível dizer se o ponto de luz era mesmo um planeta na órbita da estrela - poderia ser um objeto de fundo, muito mais distante. Observações recentes, entretanto, comprovaram que os dois objetos estão ligados gravitacionalmente.

A busca por planetas extra-solares é um dos campos mais ativos e concorridos da astronomia atual. Há pouco mais de um mês, a Nasa anunciou que o telescópio espacial Sptizer havia "capturado pela primeira vez a luz de dois planetas conhecidos na órbita de outras estrelas". As observações, entretanto, não incluíam uma imagem direta dos planetas - apenas uma medição da radiação emitida por eles. "Nós temos uma imagem real, eles não", esclareceu ao Estado o pesquisador Ben Zuckerman, da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

Na foto da equipe, feita no infravermelho, é possível ver claramente os dois objetos. Mas não se deixe enganar pela aparente proximidade entre os dois: a separação é, na verdade, equivalente a 55 vezes a distância entre o Sol e a Terra. Outra curiosidade, segundo Zuckerman, é que estrela e planeta têm, na verdade, o mesmo tamanho - ambos com o diâmetro de Júpiter. A diferença está na massa e temperatura de cada um: o planeta, com cinco vezes a massa de Júpiter, é muito mais frio e emite bem menos luz; enquanto a anã marrom, com 25 vezes a massa de Júpiter, tem o dobro da temperatura e é bem mais brilhante.

Mas nada de tão impressionante: as anãs marrons são estrelas falidas, sem massa suficiente para iniciar as reações nucleares que a fariam brilhar como o Sol. Já o planeta só emite um pouco de luz porque ainda é jovem - note que os planetas do sistema solar, mais antigos, não possuem luz própria, apenas refletem o brilho do Sol.

"Acho que é o primeiro passo de um longo caminho para a descoberta e o estudo de planetas menores e rochosos, do tipo da Terra - algo que ainda não é possível com a tecnologia atual", avalia Zuckerman. "É um objetivo ainda muito distante, mas temos que começar de algum lugar." As descobertas serão publicadas na revista Astronomy and Astrophysics.