Título: Lamy ou Castillo: um deles será o novo diretor da OMC
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Economia, p. B6

Ministro de Maurício foi eliminado ontem e Brasil pode abster-se de novo de votar O francês Pascal Lamy e o uruguaio Carlos Perez del Castillo foram escolhidos para a fase final da eleição para o posto de diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ontem, após consultas com mais de 140 países, a presidência do Conselho Geral da entidade pediu ao terceiro candidato, o ministro de Maurício, Jaya Krishna Cuttaree, que abandonasse o processo. Montevidéu espera ter o apoio do Brasil, mas a votação será um desafio à diplomacia brasileira, que terá de escolher entre dois negociadores que o Itamaraty criticou nos últimos meses. O Brasil também pode repetir o que fez nesta semana, e não aparecer para votar. Na primeira rodada de votações, o País tinha seu próprio candidato, o embaixador Luis Felipe de Seixas Correa, que, sem apoio suficiente, foi eliminado. O Itamaraty não estava disposto a apoiar Castillo por considerá-lo responsável por posições contra os países emergentes nas negociações, e deixou de votar.

Nos corredores da OMC, acredita-se que a situação não poderia ser pior para o Brasil. De um lado está Lamy, que defendeu os interesses protecionistas da Europa como comissário de Comércio de Bruxelas. Lamy foi alvo de um comunicado do Itamaraty após afirmar que apoiava uma gestão internacional da Amazônia. Segundo o comunicado, "tais declarações são incompatíveis com o cargo de diretor-geral da OMC, ao qual o sr. Lamy aspira".

Sobre Castillo, Amorim disse em outubro: "É uma candidatura que teria dificuldades em levar adiante um acordo em Genebra". Segundo ele, "para o cargo, é preciso não só uma personalidade forte, como também percebida como forte".

O problema no voto do Brasil ainda se dá porque Seixas Correa insistiu, quando ainda candidato, que os países ricos não poderiam comandar ao mesmo tempo o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e também OMC. "E agora, o que fará o Brasil", indagava ontem um alto funcionário da diplomacia da Oceania.

Para o embaixador uruguaio na OMC, Guillermo Valles, está na hora de os dois países "olharem para frente". Ele acredita que o presidente do Uruguai, Tabaré Vazques, conversará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na votação desta semana, Lamy ficou com o maior número de votos e, segundo Trojan, a vantagem ante Castillo foi "ampla". A próxima rodada de votação se inicia em 9 de maio.

ITAMARATY

O Itamaraty dá como certa a escolha de Pascal Lamy para a direção-geral da OMC. A diplomacia brasileira insiste na avaliação de que o processo obscuro de eleição para o posto permitiu a condução da escolha final, com a eliminação dos adversários de Lamy. Ele deve atuar principalmente na "construção de consensos" na etapa final da Rodada Doha.

O Brasil, em princípio, deverá novamente se abster na última etapa da eleição, disse uma fonte do Itamaraty. Mas Amorim não confirmou.