Título: ´Olhem os números´, elogia Palocci
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2005, Economia, p. B4

Ministro faz veemente defesa da política monetária do BC, alvo de críticas dos mais variados setores da sociedade O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, fez ontem uma veemente defesa da política monetária do Banco Central que, nos últimos dias, vem sendo alvos de críticas dos mais variados setores da sociedade. 'A política está sendo bem conduzida', disse ontem Palocci, ao anunciar mudanças na sua equipe de assessores e na diretoria do BC. 'Olhem os números (da economia)', pediu. 'Os número falam bem mais alto que as minhas modestas opiniões.' Palocci não quis comentar diretamente a proposta feita pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), de criar uma comissão para estudar como retirar do Comitê de Política Monetária (Copom) a competência de tratar isoladamente da taxa de juros. Mesmo assim, ele rechaçou a idéia. 'As próprias lideranças do Congresso entenderam que essas alternativas estão na contra-mão do que é feito em todo o mundo', disse. 'Devemos continuar caminhando e olhando para o que de moderno vem sendo feito nos demais países, que adotam cada vez mais a política de meta de inflação e de autonomia para os Bancos Centrais.' As mudanças na equipe e no BC não vão, segundo Palocci, provocar alteração na condução da política econômica do País. 'As mudanças são de posições dentro da equipe', sintetizou. 'Não há mudança na condução da política econômica.' Nem mesmo a substituição de Eduardo Loyo, atual diretor de Estudos Especiais do Banco Central

Para ministro, a inflação está sob controle e as contas públicas, equilibradas tral, e considerado um dos membros ortodoxos do Copom, pelo economista Alexandre Tombini, dará um perfil menos conservador ao BC. 'Até começo a achar que é normal (o conservadorismo do BC)', disse Palocci, para quem em quase todos os países do mundo os bancos centrais são vistos como conservadores.

Em seguida, ele fez uma brincadeira sobre a questão de mudança de perfil do BC em função da substituição de Loyo. 'Tombini é um atleta...', afirmou, numa referência ao fato de que Tombini é mais magro do que Loyo. Para Palocci, é preciso esquecer um pouco os adjetivos - 'conservador, muito conservador, pouco ousado' - quando se analisa a atuação do BC, pois esses termos não ajudam a ver o que realmente importa, que é o trabalho que está sendo feito para a convergência da inflação com as metas.

O ministro informou que discutiu as alterações em sua equipe e no BC com o presidente do BC, Henrique Meirelles, e que elas foram feita em busca de um aperfeiçoamento. 'Esse rearranjo (da equipe) dá uma construção inovadora. Vamos em frente com essa política.' O acerto da atual política monetária, diz Palocci, está sendo comprovado pelos números da economia. Segundo ele, a inflação está sob controle, a vulnerabilidade externa do País diminuiu e as contas públicas estão equilibradas.

Ele lembrou que recentemente havia uma polêmica no Brasil sobre a taxa de câmbio, com alguns especialistas dizendo que o real tinha se valorizado demais e isso iria prejudicar as exportações. Palocci observou que os resultados das contas externas do País mostram o contrário. Lembrou que o Brasil teve, em março, o maior superávit na conta de transações correntes do balanço de pagamentos desde 1947. Ele disse que a polêmica é necessária e faz parte da democracia, mas observou que é preciso ter humildade quando se faz críticas e observar os resultados.

Ao seu lado, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, que está deixando o governo por motivos pessoais, também fez uma defesa ardorosa da política monetária do BC. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernardo Appy, ocupará a vaga de Lisboa. Appy será substituído por Murilo Portugal, que é o atual representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI). Loyo ocupará a vaga de Portugal. 'No ano passado, eu mesmo tinha dúvidas se a trajetória de crescimento não seria afetada pela política executada pelo BC', disse Lisboa. 'Hoje vejo que o BC estava certo', afirmou. 'Quero fazer aqui o elogio à atuação do BC e às pessoas que conduzem a política monetária', concluiu Lisboa, tendo ao lado o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Sant´Anna Bevilaqua, é apontado como ortodoxo linha-dura do Copom.