Título: Subsecretário defende cartilha 'Politicamente Correto'
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2005, Nacional, p. A7

A cartilha Politicamente Correto, com a qual a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos pretende esclarecer os brasileiros sobre palavras e expressões que não devem ser usadas, foi ontem defendida pelo subsecretário Perly Cipriano das críticas que vem recebendo desde sua divulgação, na semana passada. O texto "não pretende estabelecer regras para ninguém", mas "apenas chamar a atenção" para expressões "que podem não ser ofensivas para quem fala, mas são para quem ouve", disse ele em entrevista à Rádio Eldorado AM, ontem de manhã. Cipriano tentou assim justificar o trabalho, que o governo encomendou ao jornalista Antônio Carlos Queiroz. O novo índex menciona 96 palavras, expressões ou piadas tidas como inadequadas - coisas como veado, burro, sapatão, baianada, gilete, aidético. Entre os mais irritados com a iniciativa está o escritor João Ubaldo Ribeiro, para quem a cartilha é um "delírio totalitário, preconceituoso (ele sim), asnático, deletério e potencialmente destrutivo". Além de Ubaldo, outros autores ou profissionais da mídia ironizaram a idéia de que cabe ao governo ensinar aos cidadãos o que devem dizer ou não dizer.

"Às vezes uma pessoa usa expressões que lhe parecem naturais, mas para quem ouve não é muito bom", argumenta Cipriano. Barbeiro ou palhaço, termos usados para ofender alguém, e que, esclarece ele, atacam todos os barbeiros e palhaços, "que têm dignidade e uma profissão séria". Ele menciona o preconceito contra judeus, que gerou o verbo judiar e um ilícito verbal mais recente, "um preconceito contra as loiras", que "dava a impressão de que loira não pensava". Mas ele não condena o uso da palavra "negro" quando ela dá uma informação objetiva, como na expressão "nuvens negras no horizonte". Às vezes, diz ele, "é uma expressão carinhosa", como em "minha neguinha".

"A idéia é fazer um lento processo, onde as pessoas tomem consciência, nas escolas, em seu meio de trabalho", sustenta o subsecretário. "O cidadão não nasce com preconceito", adverte. "Ele aprende a ser assim - machista, autoritário, racista. Então, pode também aprender a ser diferente." Mas o que ajuda a definir o que é politicamente correto, confessa, "é o bom senso".