Título: Choques e protestos ameaçam trégua entre Israel e palestinos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2005, Internacional, p. A9

Após várias semanas de relativa calma, uma série de incidentes ameaçou no fim de semana a frágil trégua entre israelenses e palestinos. Milhares de revoltados palestinos saíram ontem às ruas para protestar contra a morte de três jovens pelos soldados israelenses em Rafah, na Faixa de Gaza, enquanto o governo de Israel intensificava a segurança na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, para impedir uma concentração maciça de judeus ultradireitistas no local - que o judaísmo denomina Monte do Templo. Em meio ao clima de tensão, extremistas palestinos lançaram cerca de 70 bombas e foguetes contra assentamentos judaicos na Faixa de Gaza. No incidente de sábado em Rafah, um campo de refugiados no sul da Faixa de Gaza, os soldados israelenses atingiram os três palestinos, cuja idade variava entre 14 e 16 anos, quando, aparentemente, jogavam futebol. O Exército israelense, no entanto, afirmou que os três palestinos eram contrabandistas de armas, contidos pelos soldados quando tentavam atravessar a cerca que separa a Faixa de Gaza do território do Egito.

Em Jerusalém, a polícia israelense prendeu ontem 31 extremistas nas proximidades da Esplanada das Mesquitas, cujo acesso foi fechado por Israel aos judeus durante a semana, ante o plano de um grupo da extrema direita judaica de concentrar ontem 10 mil ativistas no local. No sábado, 10 mil palestinos - segundo dados da polícia da AP - se reuniram em várias manifestações na Cisjordânia e em Gaza para protestar contra a presença maciça dos judeus na Esplanada. Líderes das manifestações palestinas ameaçaram Israel com "a terceira intifada".

Grupos de palestinos dispostos a enfrentar os extremistas judeus postaram-se desde o sábado nas entradas da Esplanada, onde cerca de 15 muçulmanos compareceram ontem para rezar. No acesso à área conhecido como Porta dos Leões, ativistas palestinos e israelenses entraram em choque com a polícia de Israel. Entre os detidos nos confrontos está o líder local do Hamas, Hassan Youssef.

A área abriga o complexo da Mesquita de Al-Aqsa, de onde o Profeta Maomé ascendeu aos céus, segundo o Islã. A mesquita foi erguida sobre as ruínas do templo construído por Salomão.

O plano de concentrar direitistas judeus na Esplanada visava a expressar a revolta dos colonos que serão removidos dos 21 assentamentos da Faixa de Gaza e de 4 da Cisjordânia a partir de julho, de acordo com um projeto do primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon.

Sharon chegou ontem à fazenda do presidente americano, George W. Bush, em Crawford, no Texas. Os dois líderes se reúnem hoje. No encontro Bush deve reiterar o pedido feito na semana passada para que Israel detenha a expansão de assentamentos na Cisjordânia. O ministro de Relações Exteriores israelense, Silvan Shalom, disse ontem que esse tema deve ser abordado, mas não será o assunto central da reunião. "Basicamente, Israel considera os assentamentos como território israelense e, portanto, nos mantemos firmes em nossa opinião sobre isso (o plano de expansão do assentamento de Maleh Adumin, perto de Jerusalém)", declarou Shalom.