Título: Para diretor, imprensa usa Abin para atingir governo
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Nacional, p. A12

O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, Mauro Marcelo de Lima e Silva, afirmou ontem em São Paulo que setores da imprensa "estão utilizando a Abin para atingir o governo". Durante debate sobre liberdade de expressão e privacidade, promovido pela Escola Paulista da Magistratura, Lima e Silva atribuiu a jornais e revistas "erros, abusos e ofensas de graça". Nos últimos meses, declarou, "houve vários casos que acabaram gerando embaraços para a atividade de inteligência". Indagado sobre os motivos dessa conduta da imprensa, que também creditou "à oposição" (apontou os deputados Fernando Gabeira, do Rio, e Alberto Fraga, do DF), o chefe da Abin reiterou: "Estão querendo atingir o governo e utilizam a Abin para fazer isso, erros onde se buscou o furo e não a prudência, erros que não são interessantes nem para a imprensa nem para a sociedade, mentiras baseadas na liberdade de imprensa. O objetivo? Não sei".

Lima e Silva apontou editoriais de O Estado de S. Paulo e do Jornal da Tarde, artigos publicados na Folha de S. Paulo e reportagens de Veja. "Dois editoriais do Estado ofendendo a Abin sem necessidade, um do JT, dois dias depois da minha posse", anotou.

"Fui brindado com editorial do JT com dez ofensas pesadas, comparando a Abin à KGB, e com editorial do Estado, seis ofensas questionando o que seria interesse público." Afirmou que é a favor da liberdade de imprensa.

"Não estou querendo dizer que a Abin é dona da verdade, mas também não estou querendo dizer que a imprensa é dona da verdade", argumentou. "Temos que estudar e saber o que está ocorrendo." Ele garantiu que "a Abin não investiga pessoas, mas produz documentos e conhecimentos a respeito de fatos que possam gerar possíveis repercussões de interesse do Estado".

Disse que, desde que assumiu o cargo, há oito meses, a Abin "adotou orientação de transparência de seus atos porque exerce atividade de Estado, não de governo". Assegurou que "tem respeito muito grande" pela imprensa e que não se considera perseguido. Jurou que jamais vai processar jornalista ou órgão de comunicação. "A imprensa nunca teve tanto acesso à agência", disse.

O diretor da Abin comentou que trabalhou 18 anos como delegado em São Paulo. "Vivi uma experiência com a imprensa policial, há quase um ano estou convivendo com a imprensa política em Brasília. É uma diferença e tanto. Eu pensei que já tinha visto tudo, muito surpreso estou vendo erros da imprensa."

Lima e Silva protestou contra notas que definem a Abin como o "SNI do Lula". Acusou a imprensa de "não reconhecer erros que comete". Repudiou a cobertura sobre sua viagem a Cuba, em fevereiro, e atacou "colunistas de quinta categoria".