Título: MST faz marcha contra Palocci
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2005, Nacional, p. A9

Brasília vai receber 12 mil manifestantes de vários pontos do País O Movimento dos Sem-Terra (MST) deu início ontem, com um ato público no centro de Goiânia, à maior marcha que já realizou no País, com um exército de representantes que pode chegar a 12 mil pessoas. Oficialmente, o objetivo é cobrar a execução do Plano Nacional de Reforma Agrária e protestar contra a política econômica do ministro Antonio Palocci. Indiretamente, deve funcionar como manifestação de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Paradoxal? Não para o MST. Seus líderes dizem que Lula fez pouco pela reforma agrária em 28 meses de poder, mas justificam que a razão são os entraves gigantescos enfrentados por ele - dos acordos selados na disputa eleitoral pela ação das forças de direita no Congresso à estrutura do Estado, montada para garantir os interesses do grande capital, como repete João Pedro Stédile, um dos líderes ideológicos do movimento.

"Lula tem que usar suas alianças com o povo, como fez o presidente da Argentina, Nestor Kirchner, quando estimulou a população a boicotar a Esso e a Shell, por causa de aumentos na gasolina", disse ao Estado o porta-voz da direção nacional do MST, João Paulo Rodrigues. "Se Lula tivesse feito isso, o aumento do salário mínimo teria sido maior e a luta contra o latifúndio teria mais resultados." Segundo Rodrigues, a política econômica atual é a mesma do governo anterior, "baseada em juros altos e no superávit fiscal".

O governo mostra-se tranqüilo. Lula já manifestou interesse em receber os manifestantes em Brasília, enquanto o PT declarou apoio político à iniciativa. Uma preocupação não declarada, mas presente, é a eleição de 2006. Em 2002, quando Lula foi eleito, o MST reduziu as ocupações. Neste ano substituiu a onda de invasões que assustou os proprietários rurais em 2003, no chamado abril vermelho, pela marcha pacífica. E em 2006 não quer ser a pedra no caminho de Lula. Porque deseja vê-lo reeleito.

Em 2003, na posse de Lula, líderes de movimentos próximos ao PT disseram que manteriam independência e que as correias de transmissão do partido ou do governo não eram as mesmas do movimento. A história da marcha a Brasília pode mostrar que elas giram com um grau de afinamento maior que se poderia supor