Título: Na corda bamba com Jucá
Autor: DORA KRAMER
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Nacional, p. A6

Na balança de perdas e ganhos, governo avalia se vale a pena demitir o ministro Ninguém sabe o que o presidente Luiz Inácio da Silva fará - ou até mesmo se fará algo - com o ministro Romero Jucá e seu inesgotável embornal de denúncias, mas existem dois tipos de expectativa entre seus auxiliares e aliados: um pela substituição e, aproveitando o ensejo, a retomada da reforma ministerial; outro pela manutenção de Jucá, na esperança de que o caso caia no esquecimento.

A segunda hipótese tem muito mais adeptos, cuja suposição é a de que a demissão de Jucá representaria um dano maior que sua permanência à frente da Previdência Social.

A despeito do desgaste causado pelo festival de acusações - diariamente acrescido de uma nova atração -, há receio da reação do PMDB, partido do ministro, do presidente do Senado e mais de um punhado de senadores essenciais para imprimir derrotas ou garantir vitórias ao governo no Parlamento.

Ou seja, a menos que o presidente da República tenha voltado da África com outras idéias, deve prevalecer a tese da sustentação de Jucá, seja qual for o custo.

Por mais que seja difícil entender qual é mesmo a vantagem de o governo fingir indiferença às suspeições levantadas em torno de Romero Jucá.

Note-se, não são poucas nem ligeiras: abuso de poder econômico na campanha eleitoral de 1994, comercialização ilegal de madeira em terras indígenas, apresentação de garantias fraudulentas em empréstimo junto a banco oficial, desvio de dinheiro de emenda ao Orçamento para campanha eleitoral, dívidas com o INSS, uso privado de funcionários pagos com dinheiro público e outra vez abuso de poder econômico na campanha de 2002.

Compare-se esse farto patrimônio com os parcos ganhos assegurados pelo PMDB ao governo e parecerá ainda mais equivocada a avaliação de que mais vale um Romero Jucá baleado que um partido enervado.

O Planalto não terá como prêmio por proteger o ministro o apoio do partido. À exceção de documento assinado por 21 dos 23 senadores, ninguém mais no PMDB se manifestou em favor de Jucá.

Por exemplo, a voz de José Sarney, interlocutor abalizado do Palácio, nem se ouviu.

O padrinho de Jucá, o presidente do Senado, Renan Calheiros, repetiu a frase dita quando estava prestes a romper com o então presidente Fernando Henrique Cardoso: "Não tenho compromisso com o erro", referindo-se ao conteúdo das denúncias, mas deixando de lado o fato de o erro da indicação ter sido cometido por ele mesmo.

Junto à opinião pública, o governo também não ganha nada forçando indiferença frente a um assunto que pode até não fazer parte do cotidiano da maioria da população, mas imprime a marca ruim da leniência no quesito ético.

As acusações contra Jucá estão em aberto, são muitas e carecem de investigação. Ignorar sua existência não resolve a vida do ministro, não melhora as relações com o PMDB e ainda contamina a imagem do conjunto do governo.

Em casa

Não adianta o ministro José Dirceu fazer ar de ofendido e defender as contratações de parentes de ministros para cargos de confiança como se não se tratasse de nepotismo, porque não há outro termo para dar nome à prática.

Todos os parentes - incluindo as mulheres do ministro Dirceu, do ministro Antonio Palocci, do ministro José Fritsch, do ministro Nilmário Miranda e o marido da ministra Marina Silva - são servidores concursados, mas ocupam os cargos de confiança por força do parentesco, visto todos terem sido nomeados a partir de 2003.

A transferência dos cônjuges para Brasília atende a circunstâncias familiares e, portanto, significa misturar o público com o privado. Dentro do critério da impessoalidade, todos ficariam em seus cargos de origem exatamente porque seus parentes estão no poder e não o contrário.

Trio elétrico

Para todos os efeitos, o candidato do PPS à Presidência será o deputado Roberto Freire, lançado para marcar a posição oposicionista do partido já que, com a demora do ministro Ciro Gomes em mudar de legenda, o PPS formalmente está no governo.

Para efeitos eleitorais mais eletrizantes, porém, o partido inicia conversações com o PDT e o PSOL sobre a possibilidade de uma aliança em torno da candidatura da senadora Heloísa Helena.

No ar

A direção do PFL está no aguardo de uma decisão da senadora Roseana Sarney, que na semana passada fez chegar ao vice-presidente, senador José Agripino, o desejo de se reaproximar do partido.

Há meses, Roseana havia comunicado ao presidente Jorge Bornhausen que recebera uma sondagem para ocupar um ministério e, na ocasião, foi informada da impossibilidade de continuar no PFL, se concretizado e aceito o convite.

A senadora, então, tirou uma licença e as coisas assim ficaram até o envio do sinal de paz. A cúpula pefelista ignora se isso significa que ela passará à oposição ou se pretende apenas ser amistosa no intuito de, mesmo sendo ministra, continuar filiada ao PFL, a fim de não perder a legenda para disputar o governo do Maranhão em 2006.