Título: Comércio tem pior resultado desde 2003
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Economia, p. B3

Vendas crescem só 1,32% em fevereiro e analistas já vêem efeito da alta de juros Jacqueline Farid

RIO-As vendas do comércio varejista cresceram pelo 15.º mês consecutivo em fevereiro, com acréscimo de 1,32% ante igual mês do ano passado, mas desaceleraram bruscamente o ritmo de expansão. A queda nas vendas de bens de consumo não duráveis (alimentos, bebidas, calçados e vestuário), que dependem diretamente do rendimento do consumidor, puxou para baixo o desempenho do setor, que em janeiro tinha elevado as vendas em 6,24%. O resultado de fevereiro foi o pior apurado pelo IBGE desde novembro de 2003. As vendas do segmento de hiper e supermercados, bebidas, produtos alimentícios e fumo recuaram em 0,22% ante fevereiro de 2004. Com peso de mais de 50% sobre as vendas do varejo, esse grupo de produtos só não impossibilitou um resultado positivo no mês porque foi compensado pelos bens duráveis (móveis, eletrodomésticos, automóveis), que dependem do crédito. As vendas de móveis e eletrodomésticos aumentaram 16% em fevereiro.

Mas outros segmentos vinculados à renda tiveram maus resultados no mês, como combustíveis e lubrificantes (-8,65%) e tecidos, vestuário e calçados (-1,02%). O economista Reinaldo Pereira, da coordenação de Comércio do IBGE, atribui o baixo crescimento das vendas ao "efeito calendário". Segundo ele, o segmento de supermercados foi bastante prejudicado pelo fato de 2004 ter sido bissexto, com um dia e um fim de semana a mais em fevereiro, comparado com o mesmo mês de 2005. A base de comparação acabou desfavorecendo o setor.

Mas, para economistas de instituições como a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e a consultoria GRC Visão, o desempenho do comércio em fevereiro foi bem pior do que o esperado por causa do baixo rendimento e da alta dos juros. O IBGE não calcula a variação das vendas do comércio ante mês anterior, mas os dados da CNC apontam queda de 3,6% ante janeiro.

O Estado de São Paulo apresentou queda de 3,88% nas vendas do comércio em fevereiro, ante igual mês do ano passado. O Estado, com forte peso na pesquisa (38%), acabou puxando para baixo a média nacional. A queda de vendas no comércio paulista foi puxada pela redução em hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (6,35%), mas houve recuo também em combustíveis e lubrificantes (10,04%) e tecidos, vestuário e calçados (3,93%).