Título: Lula recebe presidente de Angola e divide vitória na OMC com africanos
Autor: Denise Chrispim Marin e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2005, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem a visita de seu colega angolano, José Eduardo dos Santos, para angariar pontos a mais com as duas recentes vitórias do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC). Quanto aos contenciosos contra subsídios concedidos pelos EUA a seus produtores de algodão e subvenções da União Européia a suas exportações de açúcar, Lula atribuiu também as vitórias à eficiência e determinação de pequenos agrícolas "que sustentam" as economias africanas. "Cada vitória nossa nos foros multilaterais é a vitória da competência e da determinação dos pequenos produtores agrícolas que sustentam a economia de muitos países mais pobres", afirmou o presidente brasileiro. "Esperamos sempre contar com Angola e com toda a África nessa luta para legar às futuras gerações um sistema comercial fundado na competitividade - e não na fome e miséria - de nossos filhos." No caso do algodão, o presidente acertou. Boa parte dos produtores está na África e deverá se beneficiar se os EUA cumprirem a determinação da OMC de eliminar os subsídios. Mas seu discurso previamente preparado omitiu dado da realidade. Ao iniciar a controvérsia contra a UE, o governo brasileiro teve de enfrentar pesadas pressões contrárias dos países africanos, cujos embarques de açúcar entram na Europa com tarifas reduzidas.

Por esse sistema, a UE dá preferência ao açúcar proveniente de suas ex-colônias da África, Caribe e Pacífico e à Índia. Embora não tenha questionado esse sistema de preferências, a vitória do Brasil na OMC deve levar à redução do preço do açúcar no mercado europeu.

CONTRAPARTIDA

Conseqüentemente, a receita de exportação desses países africanos para a UE tenderá a despencar, segundo fontes do Itamaraty. Como contrapartida, o governo brasileiro oferece cooperação e transferência de tecnologia para fabricação do álcool nesses países, que deverá ter resultados só em médio e longo prazos.

O presidente afirmou ainda que observou, em sua visita a 14 países da África, entre os quais Angola, sinais da "renascença africana" e reiterou que o Brasil quer participar dos esforços de recuperação da economia dessas Nações. Lembrou, mais uma vez, que essa união de permitirá ao Brasil superar sua "herança colonial de injustiça e iniqüidade".

Ao fim do encontro, Lula e José Eduardo dos Santos assinaram protocolo de entendimentos que prevê a concessão de créditos do Brasil a Angola de US$ 180 milhões este ano, de US$ 250 milhões em 2006 e US$ 150 milhões em 2007. Angola deve ao Brasil US$ 950 milhões, dívida que vem sendo amortizada desde 1990 por mecanismo financeiro lastreado no petróleo.